Tendências da contabilidade no mundo pós-COVID-19

por Roberto Dias Duarte

De tempos em tempos a humanidade passa por situações que funcionam como marcos disruptivos e, certamente, a pandemia do novo coronavírus é um deles. Essa crise sanitária sem precedentes tem funcionado como um catalisador e vem para acelerar e consolidar tendências como o trabalho remoto e a educação a distância. Neste aspecto, certas mudanças contábeis que já estava em curso agora se antecipam e se tornam mais claras, tendo em vista que o segmento é a linha de frente das transformações sofridas pelo empreendedorismo. 

Mercado mundial de contabilidade

Com faturamento anual de cerca de US$ 500 bilhões, o mercado contábil mundial está em expansão e o Brasil tende a se tornar o melhor em serviços contábeis por dois motivos: as mais de 19 mil empresas constituídas no País e a prática de cobrança por receita mensal recorrente em detrimento do modo utilizado na maioria dos países por hora trabalhada, que tem se mostrado ineficaz em virtude da tecnologia.

Mesmo com o panorama favorável, é hora de mudar, transformar o seu modelo de negócios para ter êxito na área. Trata-se de um processo dolorido, de saída da zona de conforto, que traz riscos, exige novos esforços e modos de pensar, entretanto, quem não muda já está fadado ao fracasso.

Três níveis de serviços contábeis

O mercado contábil no mundo é dividido em três níveis. O Terceirizador, que corresponde à execução de tarefas como cumprimento de obrigações acessórias e folha de pagamento; o Consultor ou Educador, relacionado à oferta de serviços técnicos como precificação, controle do fluxo de caixa ou planejamento tributário; e o nível Conselheiro, ligado à estratégia, com orientações relacionadas à tomadas de decisões, como fusão ou aquisição. 

Grande é o debate sobre o papel das novas tecnologias no futuro da contabilidade e, de fato, elas vêm para absorver os serviços atrelados ao nível 1. Contudo, as oportunidades estão nos níveis 2 e 3.  Com a utilização de novas ferramentas como machine learning, process automation e computação cognitiva, as capacidades humanas serão ainda mais essenciais, mas precisam passar por uma requalificação, tendo em vista a relevância de características como empatia e comunicação. Um comparativo pode ser feito com os serviços bancários: eles são essenciais – nível 1 -, ninguém mais renuncia às facilidades trazidas pelos aplicativos e outras ferramentas, mas quando tem o seu cartão clonado exige o contato humano para entender e resolver o seu problema.

Para o cálculo de tributos e o cumprimento de obrigações acessórias certamente continuará existindo alguém que alimente o mecanismo de e que conheça o negócio. O profissional de contabilidade não vai ser extinto, mas o seu perfil será transformado, deixará a execução e assumirá os papeis de consultor e conselheiro. 

Transformação digital dos escritórios de contabilidade

Até mesmo em virtude de toda mudança vinda com o Sistema Público de Escrituração Digital, o Brasil é um dos países que já atingiram a profissionalização do mercado. Os próximos passos serão a compra dos pequenos escritórios pelos maiores, o surgimento de grandes redes e a constituição de empresas boutique, aquelas especializadas e personalizadas à carteira.

O segmento contábil brasileiro já vive um grande processo de mudanças com essa transformação digital. Agora, essa nova Era que vislumbramos pós-COVID 19 certamente deve acelerar todos esses processos. Os escritórios passarão a empresas de tecnologia que entregam conhecimentos contábil e científico. Mais que isso, enxergarão verdadeiramente o cliente e entregarão valor e a melhor experiência. 

Enfim, as tendências deste mercado permanecem as mesmas, só que mais aceleradas!

 

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