De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade, cerca de 70 mil organizações contábeis estão em atividade no Brasil.
A pesquisa abaixo, realizada em junho de 2020, aborda diretamente como estão os escritórios de contabilidade estão perante a transformação digital e as mudanças de comportamento do cliente.
Foram coletados dados do mercado por meio de pesquisa “survey”, com 503 respondentes. Foram usados critérios que possibilitam classificar as organizações do setor de acordo com a fase de amadurecimento.
No artigo abaixo, apresentaremos parte da pesquisa sobre os principais indicadores do mercado da contabilidade.
Principais indicadores do mercado
Mais da metade das organizações contábeis no Brasil, ou seja, 51% apresentaram receitas mensais em junho de 2020 em valores até R$50 mil.
Além disso, cerca de 80% delas tiveram receita de até R$150 mil, sendo que 76% do mercado cobram de seus clientes parcela adicional anual. Por outro lado, apenas 10% das empresas apresentaram, no mesmo período, receita total acima de R$ 300mil.
Os menores escritórios tiveram receita média em junho de R$45.800 e os maiores, de R$ 413mil.
A pesquisa evidenciou uma grande discrepância entre os grandes escritórios e os pequenos.
Em relação à quantidade de clientes, 51% dos escritórios de contabilidade têm até 70; e 83% chegam a manter até 200. Apenas 8% das organizações têm mais de 250 clientes.
Entretanto, enquanto a média geral do mercado é de 114 clientes por escritório, para 80% deles, os menores, a média é de 68; enquanto para os 20% maiores oscila em torno de 290 clientes.
Qual foi o valor da receita mensal?
Um indicador importante para o setor é a receita média mensal por cliente, popularmente conhecida por “ticket médio”.
Qual a quantidade de clientes com contratos ativos?
O ticket dos 80% menores ficou em R$667, já para os 20% maiores, o valor foi R$1.427.
Cancelamento de contratos
Na média, os escritórios de contabilidade tiveram menos que cinco contratos de clientes cancelados no período de janeiro a junho de 2020.
Cerca de 70% das empresas contábeis perderam até três clientes no primeiro semestre do ano.
A consequência disto é uma taxa de cancelamento mensal de 0,65% e um ciclo de vida de clientes (lifetime) estimado de quase 13 anos.
Em termos financeiros, os cancelamentos representaram uma perda média de receita mensal de cerca de R$9.065.
Considerando os 80% menores escritórios, essa quebra de faturamento foi de R$8.224, enquanto para os 20% maiores a diminuição dos resultados foi de R$25.389.
Novos clientes
No primeiro semestre de 2020, os escritórios de contabilidade captaram um novo cliente por mês, com a receita média mensal adicional de R$14.974.
Apenas 2% das empresas conquistaram dois ou mais clientes por mês, sendo que 90% delas captaram um ou menos.
Analisando os menores escritórios, o crescimento da receita mensal decorrente de novos clientes foi de R$11.177. No caso dos maiores, o valor foi de R$29.695.
Redução de valores de contratos e inadimplência
O valor mensal dos contratos, durante o primeiro semestre do ano, foi reduzido em até R$2 mil para 64% das empresas de contabilidade. Enquanto isso, para 90% delas o valor da redução não chegou a R$10mil.
Uma em cada quatro empresas sequer sofreram reduções contratuais. E, para metade dos escritórios, entre um e seis clientes solicitaram diminuição nos valores contratuais.
Em valores financeiros, no primeiro semestre de 2020, os escritórios de contabilidade, em média, tiveram uma redução de R$8.424 mensais, sendo que para os menores, o valor foi R$6.099 e para os maiores, R$17.005.
Apenas 10% dos escritórios não têm clientes inadimplentes, mas metade deles tem entre um e seis clientes que não pagam os valores contratuais em dia.
Cerca de 60% das organizações têm clientes que somam dívidas de até R$10 mil. Entretanto, 10% apresentam saldo de inadimplência maior que R$ 50 mil.
Saldo líquido de receitas no semestre
Considerando a média geral do setor, no primeiro semestre de 2020 os escritórios de contabilidade tiveram uma redução líquida dos valores mensais em cerca de R$2.515. Para os menores, o número chegou a R$3.145 e para os maiores foi de R$12.700.
Crescimento líquido no primeiro semestre de 2020
Importante ressaltar que 12,4% dos escritórios de contabilidade não tiveram redução de valores contratados, nem cancelamentos durante o primeiro semestre de 2020.
Alguns escritórios no Brasil começaram a prestar o serviço de terceirização de tesouraria (contas a pagar/ receber) para seus clientes.
O mercado adotou a terminologia “BPO Financeiro” (Business Process Outsourcing) para esta nova oferta.
Comparando os escritórios que realizam serviços de BPO Financeiro com os que não o fazem, descobrimos informações importantes.
A receita média no mês de junho de 2020 das empresas de contabilidade que ofertam BPO foi 57% maior que a média geral do mercado.
Além disto, elas tiveram um crescimento líquido nas receitas mensais, durante o primeiro semestre, de 2%, enquanto a média geral do mercado foi de descrécimo em 2%.
Crescimento líquido no primeiro semestre de 2020
Custos e fôlego financeiro
Para cerca de metade das empresas, o desembolso total mensal no mês de junho de 2020 foi menor que R$ 20 mil. O valor médio dos gastos foi de R$ 79mil.
Por outro lado, metade dos escritórios têm menos que R$20 mil em reservas financeiras, e 20% têm mais que R$100 mil. O valor médio das reservas, no mês de junho, foi de R$133mil.
O cash runway médio do setor é de 1,7 meses. Desta forma, o fôlego financeiro (cash runway) médio do setor é de 1,7 meses. Isto significa que, na média, as empresas de serviços contábeis têm caixa para suportar apenas dois meses sem receitas.
Principais Indicadores em Junho de 2020
Definições
- Burn: o total de desembolsos da empresa no mês;
- Geração líquida de caixa: o resultado da receita menos o burn;
- Geração de caixa (%): geração líquida de caixa dividida pela receita;
- Custo total com pessoal operacional: custo da folha de pagamentos da sua empresa (incluindo encargos), para as pessoas alocadas na produção dos serviços;
- Margem operacional bruta (%): Custo total com pessoal operacional dividido pela receita;
- CAC: custo de aquisição de clientes no período;
- Ticket médio: valor médio pago por cliente;
- Payback do CAC: margem operacional bruta por cliente (ticket médio x; margem operacional %) dividido pelo CAC.
- Cash runaway: folêgo financeiro para empresa suportar períodos sem receitas (reservas dividida pelo burn);
- Cancelamento de clientes: quantidade de clientes com contratos cancelados dividida pela quantidade total de clientes no período;
- Lifetime: expectativa de ciclo de vida de clientes (1/taxa de cancelamento);
- Lifetime value: valor agregado médio por cada cliente durante seu ciclo de vida (lifetime x ticket x margem).
O custo fixo operacional médio do setor foi de R$54 mil, no mês pesquisado. Apenas 10% das empresas tiveram gastos com marketing e vendas superiores a R$10mil.
O lifetime dos clientes dos grandes escritórios é de 24 anos, já o dos pequenos não passa de 7.
Um dado relevante para o setor é o Payback do CAC. Para os pequenos escritórios, este indicador é de 16 meses, chegando pouco mais de 11, no caso dos grandes.
Um dado relevante para o setor é o Payback do CAC. Para os pequenos escritórios, este indicador é de 16 meses, chegando pouco mais de 11, no caso dos grandes.
Isso demonstra a ineficiência em vendas dos setor e gera um desencontro no fluxo de caixa, pois uma vez captado o cliente, ele só começa a gerar caixa para o escritório no décimo sétimo mês de contrato, para os pequenos, e no décimo segundo mês, para os grandes.
Na prática, mesmo com um volume de investimentos proporcionalmente maior em marketing e vendas, os pequenos escritórios estão em uma situação delicada com relação ao processo de expansão.
Em termos de margem operacional, não há diferenças relevantes entre escritórios de portes diferentes.
O ticket médio de R$667 para os escritórios menores explica o fenômeno do lifetime de 6,9 anos. Os maiores escritórios têm números melhores: R$1.427 e 24,5 anos.
O ticket médio dos grandes escritórios também explica uma maior receita por colaborador, mesmo considerando o custo também maior de cada um.
Sócios e colaboradores
Praticamente a metade dos escritórios de contabilidade no Brasil tinha, em junho de 2020, até 6 colaboradores, além dos sócios, sendo que 10% não tinham nenhum e, no outro extremo, 10% tinham mais de 40.
Perguntas no Mapa do Empreendedorismo na Contabilidade
01) Qual era a quantidade de colaboradores que sua empresa tinha em junho de 2020, além dos sócios?
02) Qual o número de sócios/proprietários da sua empresa?
Cerca de 10% das organizações não tinham colaboradores, além dos sócios, em junho de 2020. Metade delas contava com até cinco empregados. No outro extremo, 10% dos escritórios contavam com mais de 30.
Conclusão
Além do envolvimento com os processos de qualidade, metade do mercado já apresenta em seu time, profissionais dedicados exclusivamente à área financeira da empresa.
Como também pelo menos 40% do mercado que já planeja e revisa estratégias para o futuro de suas organizações.