por Roberto Dias Duarte (*)
Desde o início deste século profissionais da contabilidade vêm superando os desafios impostos pelas mudanças técnicas. Do lado contábil, este movimento se deu pelo processo de convergência aos padrões internacionais. Do lado fiscal, pela introdução das tecnologias tributárias, como o Sped e o eSocial.
Além disso, o ambiente tributário sempre foi hostil, sendo marcado por mais de 40 alterações legais por dia e 11 milhões de regras. Tudo isso vem sendo trabalhado, com relativo sucesso, pelos profissionais. Entretanto, o setor se prepara para um novo e maior desafio, cuja principal mudança não é técnica.
Surge um novo momento, o da criação do mindset empreendedor. Seja o dono do escritório, o gestor ou o técnico, há uma imprescindível necessidade de aprender a empreender. Para ser bem-sucedido em seu negócio ou carreira, o profissional precisa aplicar conceitos importantíssimos no dia a dia do trabalho.
Em especial, líderes, empresários e gestores devem dedicar boa parte do seu tempo para conhecer e aplicar técnicas de gestão estratégica de negócios, pessoas, atendimento e processos. Enfim, chegou o momento da excelência na gestão das consultorias e organizações contábeis. Somente assim haverá, de fato, a oferta de serviços de alto valor agregado. Consequentemente, os clientes passarão a valorizar mais o trabalho desses profissionais.
A questão da conformidade legal já faz parte do cotidiano do profissional da contabilidade. O advento de novas tecnologias fiscais trouxe um componente inovador: a velocidade do mundo digital. Mas, desde sempre, há bons profissionais alertando e orientando os demais acerca destes temas. Não que faltem novos desafios, mas a fórmula para superá-los é a de sempre : estudar, estudar, estudar.
Agora, a grande transformação que está ocorrendo não é legal, mas sim no campo do comportamento. São poucas as organizações contábeis isentas de problemas com recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoas. Há muita reclamação, tanto por parte de quem contrata, quanto dos próprios contratados. Isso é claro sintoma de que algo está errado.
Primeiramente, é fundamental investir em gestão estratégica de pessoas, no sentido amplo do tema. Em segundo lugar, o profissional precisa entender que só conhecimento técnico não é suficiente para o sucesso na carreira. É necessário que ele seja protagonista de sua vida e busque atitudes empreendedoras internas, ou seja, atue como intraempreendedor. Desenvolva relacionamento, comunicação, proatividade e outras inteligências, além das meramente técnicas.
Por outro lado, também há uma grande insatisfação do mercado empresarial com relação aos escritórios que os atendem. Recentemente, utilizei a metodologia global NPS (Net Promoter Score) para avaliar esse quesito. Foram mais de 2 mil respostas de empresários. Tivemos 42% classificados como detratores dos escritórios e 33% de promotores. Na prática, isso mostra que temos um terço dos escritórios trabalhando com excelência, transformando seus clientes em verdadeiros fãs.
Enfim, se a classe contábil insistir em estudar apenas a legislação, e negligenciar a estratégia, a gestão e o desenvolvimento de habilidades comportamentais, este mercado nunca será valorizado pela sociedade. A boa notícia é que um terço do mercado percebeu isso a tempo, e já mudou profundamente seu estilo de atuação.
(*) Roberto Dias Duarte é sócio e presidente do Conselho de Administração da NTW Franquia Contábil, primeira deste setor no país.