por Roberto Dias Duarte*
O Brasil harmonizou, já há algum tempo, suas normas contábeis com o padrão global, por meio da tão falada convergência ao International Financial Reporting Standarts (IFRS), conjunto de regras emitido pelo International Accounting Standards Board (IASB). A Lei nº 11.638, publicada em 28 de dezembro de 2007, foi um grande marco neste processo.
A partir de então, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), criado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em 2005, tornou-se responsável pela tradução e ajustes das normas do IASB, adaptando-as, quando necessário, à realidade brasileira.
Os benefícios da adoção destes padrões na elaboração e divulgação de demonstrações contábeis e financeiras hoje são um consenso em nosso país, onde perto de 49 mil organizações contábeis possuem registro no CFC.
Pesquisa da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon) aponta que estes escritórios têm, em média, nove funcionários (440 mil empregos gerados) e 78 clientes cada, o que os faz responder, em conjunto, por demonstrações contábeis, cálculo de tributos e o cumprimento de obrigações acessórias de nada menos que 3,8 milhões de empresas.
Com um intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 1,12%, o estudo expõe, em contrapartida, indícios preocupantes quanto à profissionalização da gestão dessas empresas. Mostra, por exemplo, que 67% delas não realizam pesquisas de satisfação com os clientes e 85% jamais implantaram qualquer programa de qualidade.
Um outro levantamento, realizado por mim pouco tempo atrás, amplifica este cenário intrigante. Quase 70% dos empresários do setor declararam que um de seus principais diferenciais é o cumprimento rigoroso das obrigações acessórias. Chama igualmente a atenção o fato de apenas 19% estabelecerem plano de ações estratégicas e realizarem seu monitoramento periódico, enquanto 22% afirmam possuir indicadores de resultados definidos e controlados. Conclusão: ainda são poucas as organizações contábeis gerencialmente maduras e atentas de fato às questões estratégicas do seu negócio.
A observação prática dessa realidade mostra que, mesmo tendo evoluído significativamente os modelos contábeis por aqui adotados, nossas prestadoras de serviços da área ainda estão longe de incorporar ao seu cotidiano práticas de gestão globalmente consagradas.
Para que isto de fato ocorra, todo empresário do setor precisa assumir o papel de líder empreendedor sem descuidar dos aspectos técnicos, como de resto é desejável em todo tipo de atividade.
A adoção de metodologias que levem à excelência na gestão é fator imprescindível à sustentabilidade das organizações, seja qual for sua natureza ou porte. Planejamento estratégico e mercadológico, modelagem de negócios, gestão de relacionamento com os clientes, custeio baseado em atividades, marketing digital, gestão de recursos humanos e inovação em processos e serviços são algumas das principais.
Também não faltam ferramentas objetivas para fomentar tal cultura. Dentre elas, Business Model Generation (Canvas), Design Thinking, Balanced Scorecard (BSC), Customer Relationship Management (CRM), Net Promoter Score (NPS), Guestology, Solution Selling, Social Media Marketing e Activity-Based Management (ABM). Essas técnicas, contudo, ainda são familiares a uma minoria, devendo incorporar-se com urgência ao cotidiano dos demais.
Afinal, o Brasil vem se destacando na vanguarda mundial ao adotar padrões globais de contabilidade, e não seria coerente ficar para trás no aspecto empreendedorismo neste segmento. Nos dias atuais, camarão que não inova a onda leva. Quem duvida pode mudar de ideia facilmente ao analisar melhor o reboliço causado por WhatsApp, Uber e Netflix em seus respectivos mercados de atuação.
*Roberto Dias Duarte é sócio e presidente do Conselho de Administração da NTW Franchising, primeira franquia contábil do país.