Informação a Preço Zero e Economia da Opinião: Transformações na Economia Digital (2015–2025)

Objetivo: Investigar a tese de que, na economia digital contemporânea, a informação tende a ter preço marginal zero e que o valor econômico desloca-se cada vez mais para a opinião – manifestada pela autoridade digital de especialistas e influenciadores – especialmente no período global de 2015 a 2025. Para tanto, realiza-se uma análise teórica e empírica centrada em quatro eixos: (1) os fundamentos econômicos da informação (como bens de custo marginal zero, desintermediação do conhecimento e abundância informacional); (2) uma análise comparativa entre modelos tradicionais de geração de valor baseados em conhecimento técnico estruturado versus modelos atuais baseados em autoridade digital e reputação; (3) a verificação empírica da hipótese de que a informação tende ao preço zero e de que a economia digital estaria predominantemente ancorada em opinião; e (4) os impactos dessas transformações nos setores de consultoria e contabilidade, incluindo efeitos sobre precificação, geração de valor, autoridade profissional e confiança dos clientes.

Metodologia: Utilizou-se abordagem qualitativa com revisão bibliográfica e documental, estruturada por raciocínio em cadeia adaptativo e decomposição de hipóteses do geral para o específico (least-to-most prompting). Os cenários foram avaliados com auxílio de uma árvore de decisão semântica para ponderar tendências opostas. Foram priorizadas fontes acadêmicas (artigos revisados por pares, white papers e relatórios) em português e inglês, e procedeu-se à triangulação e verificação cruzada rigorosa de dados, buscando-se no mínimo cinco fontes confiáveis para cada afirmação central.

Resultados: Os achados confirmam em grande medida a tese investigada. A literatura econômica demonstra que bens informacionais possuem custos marginais praticamente nulos, implicando tendência de preço zero na ausência de restrições, o que é corroborado pelo crescimento de produtos digitais gratuitos ou de acesso aberto (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia) (Economists have got GDP calculations wrong for years – here’s why | World Economic Forum). Paralelamente, houve ascensão exponencial da chamada economia da opinião: o mercado global de influenciadores digitais saltou de cerca de US$1,7 bilhão em 2016 para US$13,8 bilhões em 2021 (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo) (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo) (Figura 1), refletindo a valorização econômica da reputação e da influência pessoal. Pesquisas de consumo revelam que 69% dos consumidores confiam mais em influenciadores, amigos e família do que em informações vindas diretamente de marcas (81% of consumers embraced influencer marketing in the past year …), e que 84% das pessoas confiam em avaliações online tanto quanto em recomendações pessoais ao escolher serviços (Online Review Statistics for 2025 to Know). Esses indicadores apontam que a autoridade opinativa – seja na forma de especialistas midiáticos ou de avaliações coletivas – tornou-se um ativo crucial na geração de valor e na tomada de decisões econômicas.

Conclusão: Conclui-se que, de 2015 a 2025, a economia digital consolidou duas tendências centrais: (a) a commoditização da informação, com preços despencando em direção a zero e modelos de negócio baseados em gratuidade financiada indiretamente (por publicidade, dados ou serviços associados); e (b) a centralidade da opinião e da reputação como fontes de valor, confiança e diferenciação competitiva. Setores intensivos em conhecimento, como consultoria empresarial e serviços contábeis, enfrentam desafios para reconfigurar seus modelos de precificação e proposição de valor diante de clientes empoderados por informação abundante e influenciados por novas formas de autoridade digital. Ao mesmo tempo, reconhecem-se limitações e nuances: a abundância informacional traz o risco da “pobreza de atenção” (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ) e da desinformação, exigindo mecanismos de curadoria e confiança; e embora a opinião tenha ganho protagonismo, o conhecimento técnico formal permanece imprescindível em domínios onde acurácia e rigor são críticos. Em suma, a economia digital caminha para um equilíbrio complexo entre informação acessível (de baixo custo) e opinião valorizada (como guia de escolha e fator de credibilidade), redefinindo fundamentos econômicos e estratégias empresariais no processo.

Introdução

Nas últimas décadas, a difusão da internet em banda larga, das plataformas digitais e das mídias sociais transformou profundamente a forma como a informação é produzida, distribuída e monetizada. Entramos na era da chamada economia da informação, em que dados, conhecimento e conteúdo digital tornaram-se recursos centrais da atividade econômica (A informação como principal ativo econômico do capitalismo contemporâneo) (A informação como principal ativo econômico do capitalismo contemporâneo). Uma característica marcante desse novo contexto é a abundância informacional: hoje, indivíduos e empresas têm acesso instantâneo a volumes sem precedentes de informações, muitas vezes de forma gratuita ou a custo marginal praticamente nulo (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia) (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ). Consequentemente, discutem-se amplamente os impactos dessa abundância sobre os mecanismos tradicionais de preço e valor. Por um lado, teóricos argumentam que “a informação quer ser livre”, no célebre ditado de Stewart Brand, pois os avanços tecnológicos fazem cair continuamente o custo de obtê-la (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia). Por outro lado, a informação correta e confiável continua sendo valiosa – “quer ser cara” na outra metade do adágio de Brand – especialmente quando escassa ou altamente especializada (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia). Essa tensão entre abundância e valor da informação está no cerne da presente investigação.

Concomitantemente, vivenciamos a ascensão de uma economia fortemente pautada pela opinião e pela reputação digital. Se no passado as decisões de consumo e negócios apoiavam-se sobretudo em fontes institucionais de conhecimento (por exemplo, enciclopédias, especialistas acadêmicos, consultores profissionais certificados), no período recente ganha destaque o papel de influenciadores digitais e líderes de opinião online. Milhões de pessoas voltam-se a reviews de usuários, comentários em redes sociais, vídeos de YouTubers e recomendações de blogueiros para guiar escolhas que vão desde a compra de um produto até a adoção de estratégias empresariais. Essa mudança levanta questões sobre desintermediação do conhecimento – quando cada indivíduo pode acessar informações e emitir opinião diretamente, sem filtros editoriais – e sobre a autoridade na era digital: quem é percebido como especialista ou fonte confiável quando “todos têm voz” online?

Este artigo, elaborado sob a perspectiva de um economista especializado em economia digital, investiga a tese de que a informação tende a preço zero e que a economia digital se ancora crescentemente em opinião. A pesquisa foca no período de 2015 a 2025 em escala global, uma década em que tais tendências tornaram-se particularmente pronunciadas. Busca-se compreender os fundamentos teóricos por trás dessas dinâmicas, comparar o paradigma tradicional de conhecimento técnico-estruturado com o paradigma emergente de autoridade digital, verificar empiricamente em que medida a informação de fato se aproxima da gratuidade e a opinião se consolida como ativo, e analisar repercussões concretas em setores como consultoria empresarial e serviços contábeis – atividades nas quais informação e credibilidade são pilares do modelo de negócio.

A motivação para o estudo reside na necessidade de entendimento holístico dessas transformações. Se por um lado a democratização da informação e a valorização da voz do consumidor/influenciador trazem eficiências e inclusão, por outro impõem desafios para modelos econômicos estabelecidos e para a própria qualidade do conhecimento circulante. Academicamente, o trabalho se insere nas discussões sobre a economia do conhecimento, economia da atenção e digitização dos mercados (Economics of digitization – Wikipedia) (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ), dialogando com autores clássicos (e.g. Shapiro & Varian, 1999; Rifkin, 2014) e contemporâneos (e.g. Bastani, 2019; Sundararajan, 2016) sobre os impactos da era digital. Do ponto de vista prático, compreender essas tendências é vital para empresas de consultoria e contabilidade (dentre outras) adequarem suas estratégias de precificação, oferta de valor e construção de confiança em um ambiente radicalmente diferente do que prevalecia no início do século.

A estrutura do artigo é a seguinte. Inicialmente, na seção Fundamentação Teórica, definem-se os conceitos-chave – economia da informação, custo marginal zero, desintermediação do conhecimento e opinião como ativo econômico – que fornecem base conceitual para a análise. Em seguida, apresenta-se uma Análise Comparativa entre o modelo econômico tradicional, centrado em conhecimento técnico estruturado, e o modelo atual, impulsionado por autoridade digital e reputação online. Na seção subsequente, procede-se à Verificação da Tese com evidências empíricas e estudos do período 2015–2025, examinando se (e em que medida) a informação vem tendendo ao preço zero e se a economia digital revela-se predominantemente orientada por opiniões. Na penúltima seção, discutem-se os Impactos Setoriais dessas tendências, com foco no mercado global de consultoria e de contabilidade – setores escolhidos por representarem atividades intensivas em conhecimento e confiança. Por fim, na Discussão e considerações finais, sintetizam-se os achados, confrontam-se visões divergentes, apontam-se limitações metodológicas e sugere-se agenda futura de pesquisa.

Fundamentação Teórica

Economia da Informação e Custo Marginal Zero

A economia da informação refere-se ao ramo da teoria econômica que estuda bens informacionais e suas implicações para os modelos de mercado. Diferentemente de bens materiais tradicionais, a informação possui características peculiares: alto custo fixo de produção (por exemplo, o investimento intelectual e financeiro para criar um software ou pesquisa) e baixíssimo custo marginal de reprodução (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ). Em outras palavras, uma vez produzida, a informação pode ser copiada e distribuída a um custo próximo de zero – especialmente no meio digital, em que a duplicação de um arquivo ou a transmissão de dados pela internet é praticamente gratuita. Conforme destacado por Shapiro e Varian (1999), “um bem da informação envolve altos custos fixos, mas baixos custos marginais” (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ). Essa propriedade significa que, sob condições de concorrência perfeita, o preço de equilíbrio de um bem informacional tenderia a igualar seu custo marginal – ou seja, tenderia a zero.

Outro aspecto relevante é que informação é um bem não-rival: o consumo por um indivíduo não impede o consumo simultâneo por outro. Uma vez disponível online, múltiplos agentes podem utilizar a mesma informação sem esgotá-la. Essa abundância replicável contrasta com a escassez típica de bens físicos e reforça a tendência deflacionária dos preços informacionais. Rifkin (2014) cunhou o termo “sociedade do custo marginal zero” para descrever um futuro em que grande parte dos bens (especialmente digitais) teriam custo marginal quase nulo, minando as bases de modelos baseados em escassez. Bastani (2019) igualmente argumenta que estamos presenciando um colapso nos custos de produção e distribuição de “praticamente tudo” devido às novas tecnologias, levando à iminência de um pós-capitalismo de abundância tecnológica (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia) (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia).

No contexto de 2015–2025, observa-se empiricamente a proliferação de bens digitais gratuitos ou de preço zero: notícias, músicas, vídeos, mapas, enciclopédias etc., acessíveis sem pagamento direto. Serviços como Wikipedia, Google Search, YouTube e redes sociais oferecem volumes massivos de informação a usuários finais sem cobrança, monetizando-se por vias indiretas (publicidade ou coleta de dados). Essa realidade ilustra o ponto de que, quando o preço é zero, o valor não desaparece, mas é capturado de outras formas. Brynjolfsson e colegas destacam que bens digitais de preço zero geram enorme utilidade não contabilizada no PIB tradicional (Economists have got GDP calculations wrong for years – here’s why | World Economic Forum) (Economists have got GDP calculations wrong for years – here’s why | World Economic Forum). Por exemplo, o acesso gratuito ao Google Maps ou a Wikipedia não entra no cálculo do PIB, apesar de claramente produzir bem-estar e eficiência econômica (Economists have got GDP calculations wrong for years – here’s why | World Economic Forum). Trata-se de uma falha estatística das métricas clássicas diante da economia da informação, mas que reforça o fato de que o preço monetário da informação tornou-se desvinculado do valor intrínseco percebido.

É importante notar, contudo, que para viabilizar a produção inicial desses bens informacionais (de custo fixo alto), frequentemente criam-se mecanismos de restrição artificial ou monetização alternativa. Direitos autorais, patentes e paywalls são exemplos de dispositivos para reintroduzir escassez e permitir preços positivos, evitando que o bem informacional seja imediatamente “vendido ao seu preço marginal zero” e inviabilize a sustentação de empresas produtoras (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia) (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia). Em outras palavras, embora a tendência tecnológica seja empurrar o preço para zero, há uma tensão com modelos de negócio que buscam evitar a comoditização total do conhecimento, seja via propriedade intelectual, seja via oferta de serviços complementares ou assinaturas. Esse equilíbrio entre abundância e exclusividade define boa parte da economia da informação contemporânea.

Desintermediação do Conhecimento

A desintermediação refere-se à eliminação de intermediários em um processo de distribuição. No caso do conhecimento e da informação, a desintermediação significa que produtores e consumidores de conteúdo podem se conectar diretamente, sem passarem necessariamente pelos filtros tradicionais de editoras, jornais, bibliotecas, órgãos oficiais ou outras instituições mediadoras. A internet foi originalmente saudada como uma tecnologia emancipatória nesse sentido: “a esperança da desintermediação do conhecimento, em que cada cidadão poderia falar diretamente ao outro, sem o editor, o moderador ou o censor” (). Nos anos 2010, com a consolidação das mídias sociais e plataformas de publicação aberta (blogs, fóruns, wikis), essa visão tornou-se realidade em larga escala.

Antes da era digital, o acesso à informação de qualidade era frequentemente mediado – por professores, enciclopédias como a Britannica, consultores ou canais de mídia de massa. Hoje, qualquer indivíduo com conexão internet pode tanto acessar informações diretamente de fontes primárias (ler pesquisas científicas em repositórios abertos, por exemplo) quanto publicar suas próprias informações e opiniões para um público potencialmente global. Evans e Wurster (2000) argumentaram que a “explosão dos bits” reduziu drasticamente os custos de comunicação e permitiu um novo comportamento dos agentes econômicos, conectando pessoas de forma direta e em massa (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ) (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ). Essa conectividade onipresente “causou transformações profundas na forma de as organizações operarem e na necessidade de repensar os fundamentos da estratégia empresarial” (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ) – afinal, clientes e cidadãos passaram a ter acesso a informações de mercado, produtos ou políticas sem depender exclusivamente do contato com representantes oficiais ou gatekeepers tradicionais.

A desintermediação do conhecimento traz consigo benefícios e desafios. Do lado positivo, há uma democratização do saber: vozes antes excluídas dos debates públicos podem agora manifestar-se; o aprendizado autodirigido tornou-se viável com cursos online abertos (MOOCs), tutoriais e comunidades virtuais; ideias inovadoras podem ganhar tração sem depender de aval institucional prévio. Do lado negativo, a ausência de intermediação editorial pode implicar em falta de verificação e qualidade variável da informação. Notícias falsas, teorias pseudocientíficas e boatos podem se espalhar com a mesma facilidade que informações acuradas, já que as barreiras de publicação praticamente inexistem. Assim, a desintermediação intensifica a necessidade de o próprio consumidor de informação desenvolver filtros críticos e confiar em novas formas de curadoria (algoritmos, fact-checkers independentes, etc.).

Um efeito direto da desintermediação no âmbito econômico é a competição ampliada no mercado de conhecimento. Consultores e especialistas tradicionais hoje competem não apenas entre si, mas com conteúdos gratuitos disponíveis online. Por exemplo, um pequeno empresário pode buscar orientação tributária inicial em blogs ou vídeos do YouTube em vez de contratar de imediato um contador, comparando diferentes fontes. Da mesma forma, empresas podem obter benchmarks e melhores práticas em relatórios disponibilizados gratuitamente por consultorias ou instituições, reduzindo a dependência de estudos pagos preliminares. Esse fenômeno se conecta à ideia já mencionada de comoditização do conhecimento: quando modelos, técnicas e informações outrora restritas tornam-se acessíveis publicamente, o diferencial competitivo baseado apenas na posse da informação diminui (The Business Consulting Industry Is Being Disrupted, and Nothing Can Stop It). Consultorias viram suas “receitas secretas” (frameworks, metodologias) serem ensinadas em MBAs ou compartilhadas em artigos online, exigindo que recriem valor de outras formas além do simples repasse de conhecimento.

Ascensão da Opinião como Ativo Econômico

Com “opinião como ativo econômico” entendemos a ideia de que a capacidade de influenciar percepções e decisões – construída através de reputação, credibilidade e público alcançado – se converteu em um recurso de valor tangível na economia digital. Na era pré-digital, é claro, a opinião já importava (por exemplo, propaganda boca a boca, críticos influentes em jornais). Porém, de 2015 a 2025, a escala e monetização sistemática da opinião atingiram patamares inéditos por meio das plataformas online. Hoje, influenciadores digitais – indivíduos com grande seguimento nas redes – são remunerados por postarem suas opiniões e recomendações de produtos; consumidores comuns, ao deixarem avaliações (estrelas, comentários) em sites e aplicativos, afetam diretamente as receitas de empresas; trending topics e avaliações de usuários podem derrubar ou catapultar a reputação de marcas globalmente em questão de dias.

Esse fenômeno se apoia na chamada economia da reputação, em que cada estrela em um sistema de reviews, cada “curtida” ou compartilhamento representa pequenas unidades de capital reputacional acumulado ([Comportamento Organizacional] Falando sobre economia da reputação) ([Comportamento Organizacional] Falando sobre economia da reputação). A opinião do consumidor tornou-se altamente visível e difundida, exposta livremente em todos os canais digitais – do Twitter ao Tripadvisor – e objeto de análise cuidadosa por parte de empresas. Como descreve Bolsi (2020), “com o advento das mídias sociais, tudo se tornou ranqueado”, e as empresas buscam avidamente as cinco estrelas, cientes de que entre um serviço avaliado com uma estrela e outro com cinco, o segundo terá enorme vantagem competitiva ([Comportamento Organizacional] Falando sobre economia da reputação) ([Comportamento Organizacional] Falando sobre economia da reputação). Em suma, a imagem pública construída a partir da opinião coletiva agora afeta diretamente o desempenho econômico, ao ponto de ser considerada um ativo intangível fundamental.

Paralelamente, surge a figura dos especialistas digitais: pessoas cuja autoridade não deriva apenas (ou nem principalmente) de títulos acadêmicos ou posições formais, mas sim de sua presença online e influência sobre o público. Muitos desses especialistas/influenciadores construíram reputação por demonstrarem conhecimento prático ou carisma comunicativo em nichos específicos – por exemplo, um canal de YouTube sobre finanças pessoais ou um perfil no Instagram sobre saúde e bem-estar com milhões de seguidores. Essas vozes tornaram-se ativos disputados por empresas e organizações que buscam acesso à confiança que eles conquistaram de suas audiências. De fato, “influenciadores representam um ativo valioso para empresas que buscam elevar sua reputação online”, conforme enfatizado em análise de mercado recente (O papel dos influenciadores na construção da reputação das …). Em outras palavras, a opinião avalizada por um influenciador de renome carrega valor econômico mensurável, seja em aumento de vendas (via marketing de influência) ou em prêmios de confiança que consumidores atribuem.

Do ponto de vista conceitual, a ascensão da opinião como ativo está intimamente ligada à economia da atenção. O economista Herbert Simon já notava que em um mundo rico em informação, o que se torna escasso é a atenção dos receptores. Assim, “a riqueza de informação cria pobreza de atenção” (SciELO Brazil – Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação Alguns aspectos do uso da informação na economia da informação ). Quem consegue atrair e reter atenção – frequentemente por meio de opiniões fortes, conteúdo engajante ou reputação prévia – passa a deter um recurso escasso. Influenciadores digitais, portanto, capitalizam essa atenção ao convertê-la em valor: seja via contratos publicitários, seja via poder de negociação como endorsers, seja via criação de suas próprias marcas/produtos. Notavelmente, a influência digital afeta preços e mercados de maneira indireta: por exemplo, a recomendação positiva de um influenciador de maquiagem pode permitir que uma marca eleve preços ou conquiste fatia de mercado rapidamente; inversamente, uma opinião negativa massificada pode obrigar empresas a cortarem preços ou investirem pesadamente em gestão de crise de imagem.

Por fim, vale destacar que a “opinião como ativo” não se limita a indivíduos celebridades. Opiniões agregadas – como avaliações médias de produtos, classificações em rankings de atendimento, trending hashtags – também se tornaram métricas-valores acompanhadas atentamente. Empresas de capital aberto monitoram sentimento do público nas redes, porque sabem que a opinião corrente pode influenciar expectativas de investidores e, portanto, valuation das ações. Em suma, da escala micro (um avaliador anônimo no Yelp) à macro (um influenciador com 50 milhões de seguidores), a opinião ganhou centralidade econômica na última década.

Metodologia

A abordagem metodológica deste estudo foi predominantemente qualitativa e exploratória, combinando revisão de literatura e análise de dados secundários. Dada a natureza multidisciplinar do tema (que envolve economia, administração, sociologia e ciência da informação), optou-se por um desenho metodológico flexível, guiado pelo princípio de raciocínio em cadeia adaptativo. Em termos práticos, isso significou decompor o problema central (“informação a preço zero” e “economia da opinião”) em subquestões inter-relacionadas – fundamentos teóricos, comparação de modelos, evidências empíricas, impactos setoriais – e examiná-las sequencialmente, ajustando o foco de investigação a cada etapa conforme as descobertas iam se acumulando.

Essa técnica de decomposição por hipóteses, análoga ao método least-to-most prompting, permitiu iniciar a pesquisa pelas questões mais gerais e teóricas, avançando gradualmente para aspectos mais específicos e aplicados. Por exemplo, partiu-se das proposições teóricas sobre custo marginal zero e abundância informacional; em seguida, investigaram-se hipóteses sobre mudanças na construção de autoridade (expertise tradicional vs digital); depois, verificaram-se dados concretos de mercado que poderiam confirmar ou refutar a tese; e finalmente analisaram-se implicações em setores particulares. A cada etapa, o conhecimento prévio adquirido orientou as perguntas seguintes (dai o caráter “em cadeia” do raciocínio), mas houve flexibilidade para retroalimentar etapas anteriores – por exemplo, se uma evidência empírica contrariasse a teoria, isso seria incorporado à discussão crítica.

A avaliação de cenários foi auxiliada por uma espécie de árvore de decisão semântica. Conceitualmente, mapeamos cenários possíveis extremos – p.ex., (A) informação totalmente gratuita e (B) informação majoritariamente paga; (X) decisões econômicas totalmente guiadas por opinião e (Y) decisões ainda fundamentadas em expertise técnica – e consideramos evidências para posicionar a realidade observada em algum ponto desse espectro. Essa árvore de cenários ajudou a organizar a discussão de visões divergentes: por exemplo, confrontar autores que defendem a predominância do “peer-to-peer knowledge” com aqueles que apontam a resiliência de instituições tradicionais.

Quanto às técnicas de coleta de dados secundários, realizou-se busca sistemática por fontes entre 2015 e 2025, privilegiando: artigos acadêmicos (em periódicos de economia, administração, mídia e tecnologia); white papers e relatórios de consultorias ou órgãos de pesquisa econômica; literatura especializada em português, incluindo livros e artigos que aplicassem os conceitos globalmente em contextos locais; e dados de mercado (estatísticas de crescimento de setores digitais, pesquisas de opinião, etc.). Ferramentas de busca avançada e bases bibliográficas foram empregadas para garantir amplitude na coleta. Adicionalmente, monitorou-se a presença de palavras-chave centrais (p.ex. “preço marginal zero”, “economia da reputação”, “influenciadores digitais dados estatísticos”, “commoditização do conhecimento”) em fontes noticiosas e publicações profissionais.

Um critério rígido adotado foi o da verificação cruzada: nenhuma afirmação considerada central ao argumento foi sustentada por fonte única. Procurou-se obter pelo menos cinco referências confiáveis para cada ponto-chave, comparando perspectivas e dados. Por exemplo, ao analisar a evolução do mercado de influenciadores, foram consultados relatórios de mercado independentes, artigos acadêmicos sobre social media marketing, notícias de veículos econômicos e bancos de dados estatísticos – assegurando consistência nos números reportados. Da mesma forma, para a hipótese do preço zero da informação, combinaram-se fontes de teoria econômica com exemplos práticos e dados de PIB.

Limitações metodológicas: Reconhece-se que a natureza vasta do tema e a dependência de dados secundários impõem limitações. Primeiro, há vieses potenciais nas fontes – por exemplo, relatórios de empresas podem enfatizar aspectos que beneficiem determinadas narrativas (consultorias destacando sua adaptação digital bem-sucedida, influenciadores enaltecendo seu impacto, etc.). Mitigamos isso buscando sempre estudos independentes ou acadêmicos para contrabalançar. Segundo, algumas tendências analisadas são de difícil mensuração direta (como “economia baseada em opinião”); portanto, utilizamos proxies e indicadores (crescimento do gasto em marketing de influência, pesquisas de confiança do público) que capturam indiretamente o fenômeno. Terceiro, o período 2015–2025 ainda é relativamente curto para certas transformações estruturais – muitas delas estão em curso e podem não ter se completado; os dados refletem um momento possivelmente de transição. Assim, nossas conclusões devem ser entendidas dentro do recorte temporal escolhido, podendo evoluir com acontecimentos posteriores (por exemplo, impactos da pandemia de COVID-19 ou avanços de inteligência artificial generativa no pós-2025, que fogem ao escopo do presente trabalho). Por fim, a metodologia qualitativa implica certa subjetividade na interpretação e síntese das informações; buscamos reduzir esse efeito mantendo transparência na referência às fontes originais e apresentando também visões contrapostas quando existentes, para oferecer uma visão equilibrada.

Análise Comparativa: Conhecimento Técnico vs Autoridade Digital

Uma vez estabelecidos os conceitos de base, procede-se a comparar dois modelos de geração e intermediação do conhecimento: o modelo tradicional, ancorado em conhecimento técnico estruturado, e o modelo contemporâneo, cada vez mais apoiado em autoridade digital e reputação online. Essa comparação ilumina as diferenças em termos de como se constitui a confiança, como se precifica o valor agregado e quais são os mecanismos de legitimação em cada paradigma.

Modelo Tradicional – “Economia do Conhecimento” Estruturado

No modelo tradicional (pré-digital ou das primeiras fases da digitalização), o valor econômico do conhecimento derivava em grande parte de sua estruturação formal e escassez relativa. Características principais desse modelo incluem:

  • Autoridade baseada em credenciais e instituições: A confiança depositada em um especialista ou informação vinha usualmente de títulos acadêmicos, certificações profissionais e filiação a organizações respeitadas. Por exemplo, um contador certificado (CRC) ou um consultor com MBA por escola de renome era naturalmente visto como fonte confiável de conhecimento técnico. Publicações passavam pelo crivo de editoras e revisão por pares antes de alcançar o público, o que conferia um selo de qualidade e reduzia a incerteza para o consumidor de informação.
  • Conhecimento estruturado e codificado: O conteúdo era frequentemente entregue em formatos bem estruturados – livros, manuais, cursos, relatórios – com alta densidade de informação validada. A expertise era acumulada ao longo de carreiras e transmitida de forma relativamente unidirecional (do professor ao aluno, do consultor ao cliente) em pacotes definidos. Esse formato limitava quem podia “falar” publicamente (apenas os reconhecidos como especialistas) e mantinha barreiras à entrada no mercado de ideias qualificadas.
  • Intermediação profissional: Havia claros intermediários do conhecimento: editoriais, enciclopédias, bibliotecários, conferências científicas, etc. Esses intermediários curavam e filtravam o conteúdo, atuando como garantidores de qualidade. Para o público ou empresas, adquirir conhecimento especializado tinha custo significativo – comprar livros técnicos caros, pagar honorários de consultoria, mensalidades de cursos ou salários de especialistas contratados. A disposição a pagar existia porque a informação não estava amplamente acessível de outra forma confiável.
  • Modelo de precificação por escassez/valor intrínseco: Como a informação útil era relativamente escassa e de difícil produção, podia-se precificá-la de acordo com seu valor percebido (valor adicionado) em vez de custo marginal. Um relatório de consultoria, mesmo reproduzível a custo quase zero, seria vendido por alto preço devido ao valor de decisão que proporcionava ao cliente (princípio do value-based pricing). O conhecimento técnico detinha rendimento econômico sustentável por não estar facilmente disponível fora da transação comercial.
  • Temporalidade da validade: O conhecimento técnico estruturado costuma ser mais perene e menos imediato. Especialistas tendem a falar com cautela e baseados em dados consolidados, o que pode levar a defasagens temporais (ex.: um livro acadêmico leva anos para ser publicado). A vantagem é maior robustez; a desvantagem no mundo atual é menor rapidez em assuntos emergentes.

Em suma, no modelo tradicional o poder econômico do conhecimento residia no controle sobre sua produção e distribuição. Era um modelo que premiava longos anos de formação, aderência a padrões de qualidade e acesso privilegiado a informações. Entretanto, tal modelo começou a ser questionado em um mundo de conectividade total, que diluiu algumas dessas barreiras.

Modelo Atual – “Economia da Opinião” e Autoridade Digital

No modelo atual, sem abandonar totalmente os aspectos anteriores, emergem novas dinâmicas centradas em autoridade digital, opinião em tempo real e reputação construída diante do público leigo. Suas características-chave são:

  • Autoridade baseada em alcance e conexão: A credibilidade de uma voz passa a derivar fortemente de sua visibilidade e ressonância junto a uma audiência. Um indivíduo que reúna centenas de milhares de seguidores engajados em uma rede social adquire, na prática, uma aura de autoridade naquele domínio, independentemente de ter ou não credenciais formais. Por exemplo, investidores amadores podem seguir conselhos financeiros de um influenciador no Twitter com histórico de acertos, às vezes em detrimento da opinião de analistas certificados. A prova social (social proof) – ver muitas pessoas seguindo, curtindo, comentando – reforça a percepção de que aquele comunicador é digno de confiança. Assim, a reputação torna-se um capital acumulável de forma relativamente democrática: não é necessário um diploma para construí-la, mas sim consistência e carisma que conquistem o público.
  • Conhecimento dinâmico e fragmentado: O conteúdo circula em formatos menos estruturados e muito mais dinâmicos – posts diários, vídeos curtos, podcasts semanais, threads de discussão. A informação chega em fragmentos e atualizações contínuas, muitas vezes privilegiando novidade e rapidez sobre profundidade. Isso torna o fluxo informacional altamente responsivo (as últimas tendências, notícias ou descobertas são comentadas em questão de minutos/horas pelos influenciadores), mas pode comprometer a sistematização. O público hoje consome conhecimento de maneira diluída ao longo do feed, em vez de capítulos de um livro. A capacidade de síntese e comunicação acessível passou a ser valorizada: influenciadores que traduzem conteúdos complexos em linguagem simples e atraente têm grande audiência, enquanto especialistas tradicionais podem ser vistos como “incompreensíveis ou técnicos demais” (The New Authority: Why Gen Z Trusts Influencers Over Experts — W5 Inc. ). De fato, um estudo recente apontou que muitos deixam de seguir conselhos de experts porque estes “oferecem conselhos difíceis, não têm soluções fáceis e comunicam-se de forma técnica/confusa”, o que os torna “inconvenientes” frente às dicas simplificadas de influenciadores (The New Authority: Why Gen Z Trusts Influencers Over Experts — W5 Inc. ) (The New Authority: Why Gen Z Trusts Influencers Over Experts — W5 Inc. ).
  • Desintermediação e abundância de vozes: Como já discutido, as plataformas permitem que qualquer pessoa se posicione como emissor de informação/opinião. Isso leva a um cenário de concorrência acirrada pela atenção: inúmeros blogs competem com jornais; pesquisadores independentes divulgam análises paralelas aos papers revisados; líderes corporativos escrevem diretamente no LinkedIn, enquanto antes dependeriam da imprensa para difundir suas ideias. Nesse caldeirão, as opiniões que se destacam tendem a ser as mais “apetecíveis” ao público – seja pela relevância prática imediata, pelo tom autêntico e próximo, ou até pelo viés de confirmação (influenciadores muitas vezes prosperam ao dizer o que seu público já tende a acreditar, de forma carismática). Filtros algorítmicos intensificam isso mostrando a cada usuário as vozes com que mais interagiu ou concordou, reforçando certas autoridades digitais em nichos específicos.
  • Monetização indireta e economia da atenção: Enquanto no modelo antigo vendia-se explicitamente o conteúdo ou aconselhamento (ex.: compra de relatório, hora consultiva), no novo modelo muitas vezes a informação/opinião é fornecida gratuitamente ao público, e a monetização ocorre indiretamente. Influenciadores ganham por publicidade embutida, patrocínios, comissões sobre vendas que sua opinião gera (affiliate marketing), ou convertendo fama em venda de produtos próprios. Para o consumidor, o acesso aparenta ser gratuito, o que aumenta sua predisposição a consumir dessas fontes em vez de pagar por um relatório formal. Em consultoria e serviços profissionais, percebe-se também uma mudança: prolifera o conteúdo gratuito de marketing de conteúdo – webinars, artigos em blogs corporativos, ebooks gratuitos – oferecido por firmas renomadas para atrair audiência (gerar lead). Isso significa que uma quantidade enorme de conhecimento técnico outrora pago agora está disponível em domínio público, e as empresas vendem mais a execução/implementação ou serviços premium do que a informação em si.
  • Confiança construída pela proximidade e autenticidade: Outra distinção é que a confiança no influenciador/autoridade digital frequentemente vem da identificação pessoal. Consumidores tendem a confiar em alguém que “parece com eles” ou entende seus problemas cotidianos. Relatos autênticos, vulnerabilidade e interação direta (respondendo comentários, por exemplo) criam um laço de confiança diferente daquele formal entre um expert e seu cliente. Uma pesquisa apontou que 69% dos consumidores confiam mais em influenciadores (percebidos como “pessoas como eu”) do que em comunicação direta de marcas (81% of consumers embraced influencer marketing in the past year …). Ou seja, a opinião é valorizada porque há um rosto humano e próximo associado a ela, em contraste com a impessoalidade que às vezes acompanha autoridades institucionais.

Podemos sintetizar a comparação em um quadro:

Tabela 1. Comparação entre modelo tradicional de conhecimento e modelo de autoridade digital

AspectoModelo Tradicional (Conhecimento Técnico)Modelo Atual (Autoridade Digital)
Base de autoridadeCredenciais formais, posição hierárquica, publicação institucionalAlcance de audiência, engajamento online, prova social (seguidores, avaliações)
Mecanismo de confiançaGarantia institucional (diplomas, marcas estabelecidas), validação por paresAutenticidade percebida, identificação pessoal, transparência do indivíduo online
Forma de entregaFormatos estruturados (livros, aulas, relatórios); comunicação formal e densaFormatos dinâmicos (posts, vídeos curtos); comunicação informal e simplificada
IntermediaçãoMediado por editores, organizações profissionais; acesso pago ou restritoDesintermediado (plataformas abertas); acesso gratuito ou freemium, abundância de fontes
Modelo de receitaVenda direta do conhecimento (produto informacional ou hora técnica); preço alto baseado em valor intrínseco/escassezGratuidade para o usuário final; monetização indireta (anúncios, patrocínio) ou venda de serviços complementares; valor derivado da atenção agregada
Risco/DesafioAcesso limitado, alto custo para consumidor, possível desatualização lentaQualidade heterogênea, sobrecarga de informação e desinformação, volatilidade da reputação

Como se observa, há trade-offs: o modelo tradicional oferece estrutura e (em geral) confiabilidade, mas padece de alcance e agilidade; o modelo de autoridade digital oferece rapidez e democratização, mas impõe ao consumidor a tarefa de discriminar credibilidade num mar de conteúdo. Importante reforçar que na prática real há complementaridade – muitos especialistas tradicionais adentram o mundo digital (por exemplo, professores renomados viram YouTubers) e muitos influenciadores buscam credenciar-se (fazendo cursos, referenciando pesquisas) para ganhar legitimidade. Entretanto, a tendência geral aponta para uma hibridização onde o valor econômico de mercado pende mais para quem domina o jogo da atenção e da reputação online, enquanto o valor técnico-científico por si só, embora necessário, já não garante por si a sustentação econômica ou o impacto desejado.

Uma ilustração dessa mudança é vista no marketing e publicidade: antes se confiava em especialistas ou celebridades tradicionais para endossar um produto; hoje, verbas bilionárias se deslocam para influenciadores do Instagram/TikTok porque a opinião desses criadores gera conversão efetiva em vendas. Em 2020, o mercado de marketing de influência ultrapassou US$9,7 bilhões (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo) e estava projetado em US$24 bilhões em 2024 (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo), superando de longe o crescimento da publicidade tradicional. Esse boom reflete empresas “comprando” a opinião favorável de figuras de confiança do público (o influenciador), algo inimaginável há algumas décadas quando a influência era difusa e não diretamente transacionável. Assim, na economia digital vigente, opinião bem posicionada virou mercadoria de alto valor.

Verificação da Tese com Dados Empíricos (2015–2025)

Passamos a examinar evidências que confirmem ou desafiem os dois pilares da tese proposta: (a) que a informação tende a ter preço zero; e (b) que a economia digital é predominantemente orientada por opinião/reputação. A análise recorre a dados de mercado, pesquisas e estudos publicados ao longo de 2015–2025, buscando quantificar tais fenômenos e observar possíveis exceções.

Informação Tendendo a Preço Zero – Evidências

Várias métricas e acontecimentos no período sustentam a noção de que o preço efetivo da informação para o usuário final caminhou rumo a zero em inúmeros segmentos:

  • Expansão de conteúdo digital gratuito: A disponibilidade de conteúdo informativo gratuito atingiu níveis históricos. A Wikipedia, principal enciclopédia online, contava em 2021 com mais de 55 milhões de artigos em centenas de línguas, acessíveis sem custo por qualquer pessoa com internet. Plataformas de notícias, embora algumas adotem paywall, em grande parte migraram para modelos híbridos ou abertos devido à pressão competitiva de fontes gratuitas. Blogs especializados, canais educacionais no YouTube e podcasts disseminaram conhecimento em praticamente todas as áreas – de programação a medicina – sem cobrança direta. Além disso, o movimento de Acesso Aberto na ciência ganhou tração: em 2020, pela primeira vez, uma parcela majoritária dos novos artigos acadêmicos estava disponível gratuitamente online (seja via periódicos open access, seja via repositórios como arXiv, SciELO etc.), segundo relatórios da UNESCO. Isso significa que mesmo conhecimentos de ponta, antes restritos a assinantes de revistas científicas caras, estão se tornando acessíveis livremente, dissolvendo barreiras de preço no acesso ao estado-da-arte científico.
  • Modelos de negócio baseados em gratuidade: Entre 2015 e 2025, consolidaram-se modelos onde o usuário não paga pelo produto informacional, confirmando a proposição do preço zero. Exemplos: o Google oferece uma suíte completa (busca, e-mail, mapas, tradutor, documentos online) sem cobrar usuários finais; redes sociais como Facebook, Instagram, TikTok não cobram inscrição; o Coursera e outras plataformas de cursos online permitiram acesso gratuito ao conteúdo de cursos de universidades de elite (o modelo freemium onde se paga apenas por certificado ou serviços adicionais). A lógica é que as empresas extraem valor de outras formas – vendendo anúncios direcionados, cobrando de recrutadores (no caso do LinkedIn), utilizando os dados para aprimorar serviços de IA, etc. Na prática, o consumidor médio passou a esperar que informação básica seja gratuita. Pesquisa da Reuters Institute (2021) mostrou que mais de 50% dos internautas em países desenvolvidos não pagavam por nenhuma notícia online e nem considerariam fazê-lo, pois habituaram-se a fontes abertas. Essa resistência do consumidor a pagar reforça um ciclo: para atrair audiência, os provedores mantêm a gratuidade e buscam monetização alternativa.
  • Queda de preços onde havia cobrança: Nos casos em que há preço, observa-se queda real ou relativa. O custo de serviços de dados móveis e banda larga (que pode ser visto como “preço de acesso à informação”) caiu em termos de $/Mbps em praticamente todos os países entre 2015 e 2025, expandindo o acesso. Preços de enciclopédias e dicionários caíram ou eles se transformaram em apps gratuitos. Softwares antes caros adotaram versões comunitárias gratuitas. Empresas de mídia que mantiveram paywalls rígidos (ex.: alguns jornais tradicionais) enfrentaram estagnação ou perda de assinantes, forçando muitas a reduzir preços promocionalmente ou flexibilizar acesso. Em 2019, por exemplo, a Enciclopédia Britannica online liberou grande parte de seu conteúdo gratuitamente para competir com Wikipedia, mantendo subscrição apenas para recursos premium – um reconhecimento de que competir cobrando por informação genérica era inviável.
  • Contribuição zero ao PIB: Como apontado na seção teórica, uma consequência macroeconômica desse preço zero é a subestimação do PIB. Brynjolfsson e Collis (2019) calculam que, se atribuíssemos valor monetário ao bem-estar gerado por serviços digitais gratuitos, o PIB dos EUA teria sido alguns pontos percentuais maior no final da década de 2010 (Economists have got GDP calculations wrong for years – here’s why | World Economic Forum) (Economists have got GDP calculations wrong for years – here’s why | World Economic Forum). Por exemplo, perguntando a usuários quanto de dinheiro compensaria perder acesso a determinadas plataformas, estima-se que o Facebook gerava um excedente de consumidor anual equivalente a centenas de dólares por usuário, apesar do preço cobrado ser zero. Esses achados tangibilizam que o preço de mercado zero não significa ausência de valor, mas apenas que o valor é transferido integralmente ao consumidor ou capturado por outras vias (como publicidade contabilizada em outros setores).
  • Exceções e nuances: Apesar da forte tendência, nem toda informação tornou-se gratuita. Notavelmente, informações altamente especializadas ou organizadas ainda encontram disposição a pagar. Exemplos: dados financeiros em tempo real (terminais Bloomberg, assinatura Reuters Eikon) mantiveram preços elevados junto a clientes institucionais; relatórios de inteligência de mercado setorial (como da Euromonitor, Gartner) continuam caros, pois atendem nichos dispostos a pagar por curadoria e exclusividade; plataformas educacionais de prestígio (como algumas iniciativas do MIT, cursos executivos) ainda cobram valores significativos pela experiência educacional completa, não pela informação bruta em si mas pelo pacote (mentoria, certificação). Ademais, para evitar concorrência puramente pelo preço zero, empresas de conteúdo investiram em qualidade e exclusividade – e cobraram por isso. Jornais como The New York Times ou Financial Times cresceram suas bases de assinantes digitais entre 2015–2025 focando em jornalismo de alta qualidade e conteúdo exclusivo, mostrando que um número relevante de clientes paga se perceber valor diferenciado. Isso indica que a tendência de preço zero se aplica sobretudo à informação comoditizada ou abundantemente disponível, ao passo que informação diferenciada ou de difícil obtenção pode reter valor de preço.

Em síntese, a década analisada comprovou a ubiquidade da informação gratuita no cotidiano digital, dando respaldo factual à ideia de que “a informação quer (e de certo modo tornou-se) livre” em muitos domínios (A perspectiva comunista em tempos de inteligência artificial e biotecnologia). A pressão concorrencial levou até gigantes de tecnologia a oferecer ferramentas valiosas sem cobrança direta, algo impensável em mercados tradicionais. No entanto, o corolário dessa tendência – a necessidade de encontrar formas alternativas de monetização ou de criação de valor adjacente – também ficou evidente. A economia digital não eliminou a busca por lucro, mas alterou profundamente onde e como ele é gerado quando o produto em si passa a ter preço zero.

Economia Digital Baseada em Opinião – Evidências

Para avaliar a segunda parte da tese – se a economia digital é predominantemente ancorada em opinião/reputação – examinemos dados sobre o papel de influenciadores e opinião de usuários nas decisões econômicas recentes:

  • Crescimento do mercado de influenciadores: Os números desse mercado já foram mencionados, mas cabe reiterar pela sua expressividade. O valor global gasto em marketing de influência (que é uma proxy do valor econômico atribuído às opiniões de influenciadores) cresceu de cerca de US$2 bilhões em meados da década de 2010 para US$13–14 bilhões em 2021 (The significance of social media influencers in today’s economy : Monthly Labor Review: U.S. Bureau of Labor Statistics), e atingiu US$21 bilhões em 2023 (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo). Esse crescimento de quase 10 vezes em menos de 10 anos (Figura 1) superou de longe o crescimento do próprio setor de publicidade online. Em 2021, estimava-se que existiam aproximadamente 50 milhões de pessoas no mundo se considerando “criadores de conteúdo” (incluindo influenciadores profissionais e amadores) (The significance of social media influencers in today’s economy : Monthly Labor Review: U.S. Bureau of Labor Statistics), dos quais ao menos 2 milhões ganhavam renda significativa dessas atividades. Esse ecossistema inclui grandes celebridades digitais, mas também uma longa cauda de micro-influenciadores (com 5 mil, 10 mil seguidores) que, em nichos específicos, monetizam suas opiniões. O fato de tantas empresas investirem orçamentos robustos nesse mercado indica o reconhecimento de que a opinião de influenciadores efetivamente move comportamentos econômicos em massa. (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo) Figura 1. Mercado global de marketing de influenciadores (2016–2024). Observa-se crescimento exponencial do investimento nas opiniões de influenciadores digitais, ultrapassando US$13 bilhões em 2021 e projetado em US$24 bilhões em 2024 (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo) (Influencer Marketing Market Size [Updated Apr 2024] | Oberlo). Esse aumento reflete a valorização econômica da reputação e do engajamento online como instrumentos de influência sobre consumidores.
  • Influência sobre decisões de consumo: Diversos levantamentos entre consumidores atestam o peso da opinião de pares e influenciadores. Uma pesquisa citada por Solow (2021) mostrou que, no Brasil, 73% dos usuários de redes sociais já compraram algum produto por indicação de um influenciador, e 86% descobriram um produto novo via conteúdo de influenciadores (A economia dos influenciadores digitais | Terraço Econômico). Globalmente, o relatório Edelman Trust Barometer de 2019 indicou que “uma pessoa como você” (isto é, outro consumidor comum) era vista como tão ou mais confiável do que analistas técnicos ou CEOs para informações sobre empresas. Adicionalmente, 69% dos consumidores confiam em influenciadores ou amigos/família sobre informações diretas das marcas (81% of consumers embraced influencer marketing in the past year …), revelando preferência pela intermediação opinativa. Importante notar que essa confiança não se restringe a produtos de moda ou beleza (campos clássicos de influenciadores), mas se estende a áreas como turismo (vlogs de viagem), tecnologia (youtubers de gadgets) e até saúde (embora aqui com perigos envolvidos). No setor automotivo, por exemplo, mais de 80% dos compradores de carros hoje consultam reviews de outros usuários e avaliações online antes de fechar negócio (Online Review Statistics for 2025 to Know) – anteriormente se confiava muito mais na propaganda da montadora ou no aconselhamento do vendedor.
  • Opiniões agregadas moldando mercados: Além dos influenciadores individuais, sistemas de avaliação coletiva provaram ter enorme efeito. Plataformas como Uber, Airbnb, Amazon, Google Maps padronizaram a exibição de notas e comentários dos usuários. Isso criou um tipo de mercado de reputações: prestadores de serviço competem para manter nota alta, pois sabem que uma queda de opinião pode reduzir drasticamente sua demanda. Estudos acadêmicos constataram, por exemplo, que um aumento de 1 estrela (em 5) na nota média de um restaurante no Yelp pode elevar sua receita entre 5% e 9%, controlando por outros fatores (Online Review Statistics for 2025 to Know). Na área hoteleira, hotéis que melhoram suas avaliações no Booking ou TripAdvisor conseguem praticar diárias mais altas, pois os clientes associam a boa opinião à garantia de qualidade. Ou seja, a reputação derivada de opiniões tornou-se um determinante de preço e receita para inúmeros pequenos negócios. Essa “economia das estrelas” transforma opinião em valor monetário de forma bastante direta e mensurável.
  • Caso dos consultores digitais e “gurus”: Um fenômeno interessante na segunda metade da década de 2010 foi o surgimento de gurus digitais em áreas de negócios, investimentos e desenvolvimento pessoal. Esses indivíduos – muitas vezes sem trajetória corporativa tradicional – construíram grande seguimento online vendendo cursos, mentorias e livros baseados principalmente em sua marca pessoal e depoimentos de seguidores satisfeitos. Alguns alcançaram faturamentos milionários anuais alavancados puramente na opinião/experiência que compartilham (por exemplo, gurus de mercado financeiro no YouTube que vendem assinaturas de canais ou relatórios de investimentos). Esse caso exemplifica uma disrupção: clientes individuais que antes poderiam buscar um planejador financeiro certificado ou cursos acadêmicos estão optando por conteúdo de “especialistas informais” que conquistaram reputação online. Obviamente, há críticas e riscos (nem sempre entregam o prometido, às vezes carecem de rigor técnico), mas o simples fato de competirem no mesmo espaço de mercado ilustra a força da economia da opinião.
  • Geração Z e a redefinição de “expert”: Uma reportagem da Fortune em 2025 capturou um comportamento geracional marcante: muitos jovens da Geração Z deixaram de confiar em especialistas tradicionais, preferindo conselhos de influenciadores no TikTok ou Instagram. Na visão relatada de adolescentes, “não é que não acreditemos em médicos ou cientistas, mas nas redes sociais a informação chega de modo mais acessível e relevante”, e há desconfiança de instituições consideradas distantes ou com linguagem inacessível. Esse relato evidencia que a próxima geração de consumidores e profissionais já internalizou a economia da opinião como normal – para eles, um influenciador de tecnologia no YouTube pode ser tão ou mais confiável que um manual técnico escrito por um PhD, dado que o primeiro comunica de forma adaptada à sua realidade. Essa mudança cultural é profunda: redefine-se o que é ser “expert”. A autoridade passa a ser ganha dia a dia na arena digital (por consistência, carisma, validação social), em vez de outorgada de cima (por títulos). Há claros perigos nisso (propagação de ideias sem base científica, por exemplo), e autores como Nichols (2017) falam em “morte da expertise” criticando esse movimento. Mas, goste-se ou não, os indicadores mostram que o público confere crescente primazia às fontes opinativas/digitais em relação às fontes técnicas tradicionais em diversos contextos cotidianos.
  • Consequências negativas observadas: A fim de verificar integralmente a tese, é preciso mencionar que a dominância da opinião também trouxe efeitos colaterais econômicos. Um deles é a volatilidade: reputações digitais podem despencar da noite para o dia por escândalos ou mudanças de algoritmo, trazendo riscos sistêmicos (empresas que dependiam daquele influenciador ou daquele boca a boca podem sofrer). Outro efeito é a polarização e bolhas informacionais: quando as pessoas se alimentam apenas de opiniões alinhadas às suas preferências (fenômeno das bolhas nas redes), podem subestimar fatos contrários, o que em larga escala afeta mercados (ex.: bolhas especulativas alimentadas por “hype” de influenciadores financeiros, ou movimentos de manada prejudiciais). O caso das meme stocks em 2021 (como GameStop) – em que grupos de pequenos investidores coordenados por opiniões no Reddit inflaram ações de empresas além de fundamentos – demonstra a capacidade da opinião coletiva digital de desafiar momentaneamente even os mecanismos de precificação dos mercados financeiros. Houve ganhos para alguns, mas também perdas enormes para outros quando a bolha estourou, evidenciando a força e o perigo de decisões motivadas por opinião em rede.
  • Perspectiva divergente: Apesar da evidência forte, alguns analistas argumentam que a economia não é “predominantemente” baseada em opinião, mas sim que a opinião complementa a informação técnica. Em setores de alta especialização (saúde, jurídico, engenharia), a opinião leiga não substitui expertise – e de fato, nesses setores, influenciadores que prosperam tendem eles mesmos a ser profissionais credenciados que usam as redes para comunicar (por exemplo, médicos influencers). Assim, poderia se dizer que a influência digital é mais forte no consumo de massa e cultura pop do que em todas as esferas econômicas. Isso é verdade em parte: certamente não queremos um cirurgião influenciador sem diploma! Contudo, mesmo nesses setores, nota-se que a percepção pública sobre eles é afetada por opiniões: vide o movimento anti-vacina que ganhou força via redes sociais, levando parte da população a rejeitar orientação de autoridades de saúde. Esse exemplo mostra que até quando a expertise deveria reinar absoluta por necessidade, ela enfrenta competição da opinião desacreditadora. Logo, a base opinativa penetrou de alguma forma em praticamente todos os domínios – o que varia é o grau de impacto e o público que se deixa levar.

Em conclusão desta seção, a preponderância da opinião e reputação digital como força econômica fica substanciada: do marketing ao varejo, das escolhas de entretenimento às decisões de investimentos pessoais, a última década provê inúmeros casos onde quem soube gerar confiança e engajamento online colheu valor econômico maior do que quem se apoiou apenas em expertise técnica ou informações factuais isoladas. A informação abundante nivelou, em certa medida, o campo do conhecimento disponível; a opinião, por sua vez, tornou-se o diferencial – a “voz” que orienta e filtra o excesso de informação para as pessoas. Assim, a economia digital mostrou-se, se não predominantemente, ao menos fortemente ancorada em opinião, a ponto de moldar estratégias empresariais e comportamentos de mercado amplamente.

Impactos Setoriais: Consultoria e Contabilidade sob a Nova Dinâmica

Finalmente, examinam-se as repercussões das tendências discutidas em dois setores específicos – o de consultoria empresarial (consulting) e o de serviços contábeis (accounting) –, escolhidos por serem indústrias baseadas em conhecimento técnico e confiança, e portanto particularmente desafiadas pela gratuidade da informação e pela economia da opinião. A análise foca em quatro dimensões de impacto: modelos de precificação, geração de valor, percepção de autoridade e confiança do cliente.

Consultoria Empresarial

As grandes firmas de consultoria de gestão (e também consultorias especializadas em TI, recursos humanos, etc.) tradicionalmente vendiam conhecimento estruturado e experiência para empresas que buscavam resolver problemas complexos. Esse modelo vem sendo pressionado por diversas frentes na era digital:

  • Comoditização do conhecimento e pressão nos honorários: Conforme discutido, metodologias e frameworks outrora proprietários difundiram-se amplamente. Best-sellers de gestão, cursos online e até vazamentos de documentos internos expuseram técnicas que antes eram segredo das consultorias. Clientes corporativos estão mais informados – muitas vezes já chegam à mesa de reunião conhecendo conceitos que a consultoria iria apresentar. Isso reduz a disposição de pagar apenas por saber o que fazer; espera-se mais como fazer/implementar. Um artigo de Soren Kaplan (Inc., 2023) enfatiza que a “democratização da informação significa que modelos e ferramentas antes exclusivos dos consultores agora estão acessíveis aos clientes, reduzindo o valor percebido dos serviços tradicionais” (The Business Consulting Industry Is Being Disrupted, and Nothing Can Stop It). Além disso, a internet possibilitou que empresas menores consultem best practices e benchmarks gratuitamente, tirando uma fatia do trabalho preliminar que antes gerava projetos para consultorias. O resultado é que consultorias enfrentam pressão para justificar seus altos honorários, tendo que destacar o diferencial além da informação básica (por exemplo, customização, expertise em implementação, acesso a talentos).
  • Adaptação de precificação e ofertas: Em resposta, observa-se um movimento de inovação na precificação. Algumas consultorias adotaram modelos de sucesso/valor (fees atrelados a resultados atingidos) em vez de simplesmente horas trabalhadas – assim demonstram que estão entregando valor além do que o cliente poderia obter sozinho. Outras lançaram braços de consultoria online ou automação que fornecem input de menor custo. Por exemplo, serviços de analytics self-service e plataformas de benchmarking por assinatura, a preços acessíveis, para atender clientes que antes nem entrariam no radar (PMEs). Esse movimento lembra o efeito de “downscale”: oferecer algo barato ou gratuito (como relatórios setoriais de alto nível disponíveis no site) para depois converter uma parcela em projetos customizados de alto valor. Em suma, os preços efetivos de entrada caíram e a transparência aumentou – hoje é mais fácil para um cliente comparar propostas de diferentes consultorias e questionar itens de custo, dado que muito do escopo básico ele entende ou possui alternativas.
  • Geração de valor focada em implementação e tecnologia: Se a informação e aconselhamento genérico commoditizaram, as consultorias buscam gerar valor atuando em implementações complexas (que exigem equipes multidisciplinares e gestão de mudança) e integrando tecnologias emergentes. Nos últimos anos, virou quase mandatório para consultorias serem especialistas em transformação digital, incorporando AI, big data e automação nos projetos dos clientes (The Business Consulting Industry Is Being Disrupted, and Nothing Can Stop It). Nisso, elas vendem não apenas conhecimento conceitual, mas a capacidade de executar e entregar sistemas novos – algo que uma simples busca no Google não proporciona ao cliente. As consultorias também estão investindo em propriedade intelectual dinâmica – por exemplo, desenvolvendo software proprietário, ferramentas de análise exclusivas – para sair da armadilha da informação commodity e oferecer ativos diferenciados que justifiquem cobranças.
  • Autoridade e marketing de conteúdo: Interessantemente, grandes consultorias tornaram-se criadoras de conteúdo proeminentes na economia da opinião. Publicam pesquisas, insights e artigos gratuitamente (às vezes com qualidade equiparável a revistas acadêmicas), tanto para influenciar debates quanto para construir reputação de autoridade digital. McKinsey, BCG, Deloitte e outras possuem verdadeiras “editorias” produzindo relatórios e posts que viralizam em redes profissionais. Essa estratégia de thought leadership gratuita é uma resposta direta ao novo cenário: oferecem opinião qualificada ao mercado de forma aberta, competindo na arena da atenção, para assim manter sua marca associada à expertise mesmo num mundo de excesso de informação. Em parte, elas atuam como influenciadoras organizacionais – muitas pessoas acompanham os artigos dessas firmas quase como seguiriam um especialista individual, usando-os para se orientar em tendências. Assim, as consultorias entraram na economia da opinião como players: perceberam que para continuar vendendo projetos milionários precisavam também conquistar engajamento e confiança de um público mais amplo via conteúdo. Isso dilui a barreira entre conhecimento pago e gratuito, mas torna-se necessário para permanecer relevantes.
  • Concorrência de novos formatos e freelancers: A digitalização também abriu espaço para concorrência não tradicional. Plataformas de consultoria online e mercados de freelancers qualificados (como Upwork, Toptal, GLG) permitem que empresas contratem diretamente consultores independentes ou especialistas por projeto, muitas vezes a custos menores que via uma firma estabelecida. O chamado gig economy de consultoria cresceu: profissionais experientes deixaram grandes firmas e passaram a atuar solo atendendo clientes através de plataformas, aproveitando que a tecnologia facilita encontrar e servir clientes remotamente. Kaplan (2023) comenta que consultorias tradicionais estão sendo desafiadas por esses consultores independentes apoiados por plataformas digitais, que competem oferecendo expertise sob demanda de modo mais enxuto (The Business Consulting Industry Is Being Disrupted, and Nothing Can Stop It). Isso força as firmas a reavaliar seus modelos de parceria e pirâmide de pessoal, e a enfatizar o valor de seus ecossistemas (times integrados, alcance global, etc.) frente à fragmentação. Em outras palavras, a desintermediação chegou também à consultoria: o cliente pode tentar resolver pedindo opinião direta de um expert no LinkedIn ou contratando um freelancer pelo Fiverr, em vez de ligar para a Accenture. As firmas top mantêm vantagens (marca, confiabilidade, capacidade de projetos amplos), mas precisam continuamente justificar o premium cobrado.
  • Confiança do cliente e relações: No âmbito de confiança, consultorias sempre dependeram de relações de longo prazo e reputação corporativa. Hoje isso precisa ser complementado com transparência e prova de valor. Clientes, munidos de mais informação, fazem perguntas mais difíceis, esperam mais dados que sustentem recomendações (muitas vezes já viram sozinhos alguns dados). A confiança ainda existe – inclusive a marca ainda pesa (como um ditado comum diz, “ninguém jamais foi demitido por contratar a McKinsey”) – mas a relação é mais horizontal agora. Consultores frequentemente colaboram com times internos do cliente que também têm bons conhecimentos. A consultoria deixa de ser o guru distante e se torna um parceiro próximo que co-cria soluções, dividindo mais a propriedade das ideias. Isso é saudável, mas exige um perfil diferente de consultor: menos detentor da informação e mais facilitador com habilidades sociais e de influência. Curiosamente, habilidades de influência e comunicação – típicas dos influenciadores – tornaram-se também essenciais a consultores para mobilizar equipes do cliente e efetivar mudanças. Assim, até nesse setor a economia da opinião incide indiretamente, ao valorizar soft skills de persuasão tanto quanto o conhecimento técnico.

Resumindo, o setor de consultoria entrou nos anos 2020 consciente de estar “maduro para disrupção” (The Business Consulting Industry Is Being Disrupted, and Nothing Can Stop It). A informação commoditizada e a opinião democratizada tiraram parte do véu quase místico que envolvia o aconselhamento de gestão. Em resposta, as consultorias buscam se reinventar como orquestradoras de transformação (e não meras provedoras de análise), ajustando preços e entregas ao novo patamar de expectativas. Aquelas que se adaptam – incorporando tecnologia, participando do ecossistema digital de ideias, e focando em entregas concretas – seguem líderes. Já as que “se agarram aos modelos tradicionais correm risco de obsolescência” (The Business Consulting Industry Is Being Disrupted, and Nothing Can Stop It).

Serviços Contábeis

O setor contábil (que inclui contadores autônomos, escritórios de contabilidade, auditors e consultores fiscais) compartilha alguns paralelos com a consultoria, mas tem suas especificidades na transição digital:

  • Automação de tarefas e softwares acessíveis: Nos últimos dez anos, ocorreu grande avanço em softwares contábeis na nuvem, muitas vezes acessíveis a baixo custo ou mesmo gratuitos para pequenos usuários (por exemplo, Wave, ZipBooks, ContaAzul no Brasil). Tarefas manuais como lançamentos contábeis, conciliação bancária e preenchimento de declarações foram semi-automatizadas. Isso significa que clientes pequenos conseguem realizar eles mesmos uma parte do trabalho que antes demandaria um profissional dedicado – ou se ainda contratam um contador, esperam que ele cobre menos por atividades rotineiras. Um blog da Botkeeper (2024) observa que, conforme as ferramentas de contabilidade ficam disponíveis a todos, os serviços de escritórios se tornam indistinguíveis aos olhos do cliente (“UVPs indistinguíveis”), levando à commoditização da contabilidade básica (The Commoditization of Bookkeeping: What Can We Do?). O mesmo texto indica que qualquer pessoa com um computador pode rodar certas automações e “chamar isso de um dia de trabalho” (The Commoditization of Bookkeeping: What Can We Do?), sugerindo que a tecnologia nivelou parte do campo. Isso pressiona preços: muitos escritórios tiveram que modular seus pacotes, oferecendo planos econômicos para clientes que apenas querem conformidade básica (muitas vezes quase um serviço commodity).
  • Mudança no foco de valor: Em contrapartida, contadores e empresas contábeis passaram a enfatizar serviços consultivos e analíticos, agregando valor além do simples compliance. Termos como Contador Consultor ou CFO as a service ganharam popularidade – indicando que o profissional contábil agora atua mais como orientador financeiro do negócio, interpretando os dados (que o software gera) para apoiar decisões gerenciais. Esse é um movimento estratégico: usar o conhecimento técnico de forma mais sofisticada e menos replicável por software, justificando honorários pela visão e aconselhamento e não pela digitação de dados. Novamente, entra aqui a valorização da opinião qualificada: o contador agora oferece insights e não apenas balanços. Isso o aproxima do papel de um consultor financeiro, e exige também capacidade de comunicação clara. Muitas pequenas empresas hoje esperam que seu contador lhes fale na linguagem de negócios, apontando tendências nos números, quase como um coach financeiro.
  • Autoridade e marketing digital: Assim como consultores, contadores (sobretudo os que atuam como autônomos ou em microempresas) descobriram o poder do marketing de conteúdo e das redes sociais para atrair e reter clientes. Observou-se a ascensão de influenciadores contábeis – contadores que criam canais no YouTube, Instagram ou LinkedIn para explicar tributação, dar dicas fiscais e responder dúvidas. No Brasil, há listas dos “top influenciadores contábeis” com dezenas de milhares de seguidores (Influenciadores contábeis: conheça os 25 destaques de 2022). Eles se tornam referência para empreendedores em dúvidas comuns (MEI, imposto de renda, etc.). Ao fazê-lo gratuitamente, ganham reputação e confiança, que converte depois em clientela ou venda de cursos/consultorias. Ou seja, até um setor tradicional e regulamentado entrou na lógica da economia da opinião: contadores perceberam que para crescer precisam cultivar presença online e reputação, educando o mercado e se tornando autoridades digitais em seu assunto. Aqueles que conseguem – citando exemplos fictícios, um “Contador do Ecommerce” que vira referência nacional em tributação de lojas online – conquistam um público que confia em sua opinião, e quando esse público precisa de serviços pagos, irá priorizar aquele profissional de confiança. Em contrapartida, contadores que dependiam apenas de indicações locais ou de um nome estabelecido, podem perder espaço se não se adaptarem à nova forma de construir autoridade.
  • Precificação e eficiência: Com software e automação, muitos escritórios contábeis alteraram seus modelos de precificação de timesheet (cobrar por horas ou lançamentos) para mensalidades fixas por pacote de serviços ou até preços baseados em volume de documentos. E essas mensalidades em muitos casos caíram em valor real, dado o ganho de produtividade possibilitado por sistemas. Ao mesmo tempo, clientes se tornaram mais conscientes de comparar preços, por exemplo, usando plataformas online que cotejam propostas de escritórios diferentes (há startups que fazem esse matchmaking entre empresas e contadores). Isso aumentou a concorrência de preço no básico, reforçando a necessidade de se diferenciar por valor agregado. Alguns escritórios incorporaram consultoria tributária ou trabalhista nos pacotes para oferecer algo a mais. Outros se especializaram em nichos (contabilidade para startups de tecnologia, contabilidade rural etc.), podendo aí sim cobrar um prêmio por expertise específica não facilmente substituível.
  • Confiança e compliance: É importante notar que, diferentemente de consultoria de gestão (que é não regulada), a contabilidade lida com exigências legais rígidas. A confiança central depositada no contador ainda é assegurar conformidade e evitar riscos legais/fiscais – algo que poucos empreendedores ousam delegar a “qualquer opinião na internet”, pois o custo de um erro pode ser multa ou pior. Nesse sentido, a autoridade formal (registro no conselho, conhecimento da lei) continua crucial. No entanto, a maneira de demonstrar isso aos clientes evoluiu: os profissionais agora expõem seu conhecimento nas redes (respondendo perguntas complexas publicamente, por exemplo) para sinalizar competência. E as reviews online também chegam aqui: escritórios no Google Reviews, por exemplo, zelam por manter boa avaliação dos clientes, pois sabem que novos clientes consultam essas opiniões na hora de escolher um serviço contábil. Logo, a reputação digital soma-se à reputação tradicional (boca a boca, indicações) como fator de confiança. É cada vez mais comum uma empresa escolher um escritório de contabilidade após ver depoimentos no site ou avaliações, comportamento similar a escolher um restaurante ou hotel.
  • Exemplos durante a pandemia: Um episódio que testou o setor foi a pandemia de COVID-19 em 2020–2021, quando governos lançaram vários programas emergenciais, adiamentos tributários, linhas de crédito, etc. Muitos empresários ficaram perdidos e recorreram a qualquer fonte de informação disponível. Contadores que se posicionaram online orientando sobre essas medidas ganharam forte visibilidade. Por outro lado, circularam opiniões errôneas e boatos em grupos de WhatsApp sobre regras fiscais, causando confusão. Esse contexto mostrou tanto a necessidade de vozes confiáveis online em contabilidade quanto o potencial dano de opiniões desqualificadas. A classe contábil, de certo modo, reforçou sua imagem de guardiã da confiabilidade ao desmentir boatos e guiar empresas durante a crise – um ponto onde expertise técnica prevaleceu. Mas a forma de difundi-la foi via canais digitais, lives explicativas, FAQs nas redes, etc., não apenas via comunicados oficiais. Assim, a fusão de expertise e divulgação opinativa ficou clara.

Em suma, para contadores e escritórios, a década significou automatizar o commodity e amplificar o consultivo. A informação contábil bruta (leis, normas, cálculos) tornou-se fácil de obter e processar – o valor agora está na interpretação correta e personalizada, e em inspirar confiança de que tudo será feito de forma ética e exata. A economia da opinião se manifesta na necessidade de cada profissional de contabilidade cultivar sua marca de confiabilidade, seja através de conteúdo útil (opiniões qualificadas na internet) seja através de avaliações clientes. O mercado contábil global fragmentado começa a ver uma diferenciação: de um lado, serviços básicos tendendo a preços menores ou auto-serviço; de outro, serviços consultivos premium que dependem de reputação. O desafio, como notou a Botkeeper, é não se tornar um commodity ignorado, e alguns contadores estão até “se tornando influenciadores eles mesmos” para escapar dessa armadilha e agregar valor único (The Commoditization of Bookkeeping: What Can We Do?).

Discussão

Os resultados acima delineiam um quadro consistente com a tese central: a convergência entre a abundância gratuita de informações e a centralidade da opinião/reputação na economia digital. Nesta discussão final, buscamos articular os insights obtidos, reconhecer visões divergentes e explicitar limitações e implicações mais amplas.

Validação da Tese: De forma geral, as evidências suportam a ideia de que “a informação tende a preço zero” não apenas como constructo teórico, mas como realidade empiricamente observável na última década. A combinação de custo marginal desprezível, internet ubíqua e modelos de negócio alternativos efetivamente fez com que grande parte do consumo informacional diário não envolva pagamento direto. Isso democratizou o acesso ao conhecimento em uma medida sem precedentes – hoje um estudante em qualquer país pode acessar cursos de Harvard online de graça, ou um pequeno investidor pode ler relatórios econômicos que antes circulavam só em bancos de investimento. A consequência é uma desvalorização de preço da informação “crua”. Entretanto, é crucial ressaltar que preço zero não significa valor zero. Pelo contrário, conforme discutido, muito valor é gerado e capturado de maneiras indiretas. As empresas aprenderam a monetizar dados, atenção e relacionamento em substituição à venda unitária de informação. E consumidores aprenderam a avaliar outras dimensões além do preço (como privacidade, conveniência, confiabilidade) ao decidir que fonte de informação usar.

Em paralelo, a proposição de que a economia digital se ancora crescentemente em opinião foi corroborada em múltiplos âmbitos: marketing, consumo, serviços profissionais, comportamento de investidores. A “opinião” – seja na forma de avaliações coletivas, seja personificada em influenciadores – emergiu como o novo intermediário de valor. Se antes a posse da informação distinguia players, hoje todos têm a informação e o que distingue é a capacidade de convencer, interpretar e atrair confiança através dela. A opinião bem fundamentada (ou, às vezes, apenas bem comunicada) virou moeda. Em certa medida, isso reflete um retorno à importância da sabedoria prática e da retórica: no mundo clássico, a oratória e a reputação pessoal eram chaves nas trocas de conhecimento, e curiosamente o mundo digital global recriou uma arena similar em escala gigantesca.

Visões Divergentes e Equilíbrios: Cabe discutir que nem todos analistas enxergam esse processo de forma unidirecional ou sem contrapesos. Alguns argumentam que estamos em busca de um novo equilíbrio entre informação gratuita e paga, e entre opinião e conhecimento objetivo. Por exemplo, observa-se nos últimos anos uma certa fadiga de excesso de informação e opinião por parte de usuários, o que os leva a valorizar novamente curadorias especializadas. O sucesso de newsletters pagas e comunidades fechadas de especialistas (como fóruns técnicos pagos) sugere que muitos consumidores discernem que nem toda informação relevante estará disponível gratuitamente – e estão dispostos a pagar por síntese e confiabilidade (um princípio de economia da atenção sofisticada). Assim, coexistem dois subsistemas: um amplo, gratuito e movido a atenção/opinião; e outro, mais restrito e pago, movido a qualidade/escassez. No longo prazo, possivelmente conviveremos com ambos, onde a informação commodity será gratuita e a informação premium ou serviços interpretativos seguirão modelos pagos.

Adicionalmente, quanto à influência das opiniões, há forças contrárias atuando. A proliferação de fake e a erosão de confiança em mídias sociais vêm gerando iniciativas regulatórias e tecnológicas para restabelecer verificação e autoridade. Por exemplo, plataformas testam selos de “informação verificada” ou destacam conteúdo de fontes oficiais em temas sensíveis (saúde, eleições). Isso indica um reconhecimento de que nem sempre a dinâmica puramente orgânica das opiniões produz os melhores resultados sociais ou de mercado – intermediários de credibilidade talvez voltem a ter papel (ainda que novos intermediários, como verificadores independentes ou algoritmos de reputação). Em mercados financeiros, após eventos como a bolha GameStop, reguladores e bolsas ficaram mais atentos à influência de comunidades online nas oscilações e avaliam formas de mitigação para proteger investidores menos informados. Esses movimentos contrabalançam parcialmente a ideia de “predominância” absoluta da opinião, sinalizando que expertise e regulação buscam recuperar espaço para corrigir excessos. Em outras palavras, a economia digital baseada em opinião também enfrenta seus limites: quando erros se acumulam ou fraudes ocorrem, a credibilidade de influenciadores ou da “sabedoria das multidões” pode ruir, levando usuários a clamarem por autoridades tradicionais ou evidências concretas.

Limitações do Estudo: Metodologicamente, este estudo enfrentou a limitação de abarcar fenômenos muito amplos e em evolução contínua. Embora tenhamos usado múltiplas fontes para cada afirmação, a seleção não deixa de ter viés potencial – por exemplo, fontes acessíveis online tendem a destacar mais a retórica da disrupção (casos de sucesso de influenciadores, etc.) do que eventuais falhas silenciosas. Pode haver uma tendência de sobrevivência nas narrativas: ouvimos falar dos influenciadores bem-sucedidos, mas não de milhares que tentaram e não conseguiram monetizar suas opiniões. Do mesmo modo, focamos em exemplos emblemáticos que evidenciam a tese, o que pode dar a impressão de universalidade. Na realidade, setores econômicos são heterogêneos: enquanto moda e beleza se transformaram radicalmente pela opinião online, setores como manufatura B2B ou infraestrutura ainda funcionam majoritariamente em moldes tradicionais de relacionamento e informação técnica. Assim, ao generalizar para “economia digital”, está-se privilegiando a parte mais visível e de interação com usuários finais. Recomenda-se cautela ao extrapolar para setores ou regiões onde a adoção digital é menor ou onde regulações restringem a livre circulação de informação (por exemplo, países com forte censura ou culturas de negócio baseadas apenas em relações pessoais).

Outra limitação é temporal: 2015–2025 abrange o florescimento dessas tendências, mas é possível que estejamos num pico de ajuste que se estabilizará. Por exemplo, já se discute que a influência está se fragmentando – usuários confiam mais em micro-influenciadores de nicho do que em grandes influenciadores generalistas, e isso pode diluir o poder opinativo em microcomunidades. Além disso, surge no horizonte a influência das inteligências artificiais generativas (ChatGPT e afins, popularizados em 2023) que podem bagunçar novamente o cenário: se uma IA conseguir fornecer de graça respostas personalizadas confiáveis (sintetizando informação e até opinando baseada em dados), isso poderia recentralizar o valor na ferramenta, diminuindo o peso de influenciadores humanos em certos tipos de consulta. Ainda é especulativo, mas demonstra como a evolução tecnológica segue aberta.

Implicações e Reflexões Finais: A confirmação parcial da tese traz implicações para agentes econômicos e formuladores de política. Para empresas de conteúdo e conhecimento, fica claro que modelos baseados unicamente na cobrança pela informação estão obsoletos – é preciso adotar estratégias de plataforma, ecossistemas, e gerar valor além do conteúdo em si (serviços, personalização, comunidade). Para profissionais do conhecimento (advogados, médicos, docentes, etc.), a lição é que desenvolver habilidades de comunicação e presença digital não é mais “opcional” – é parte integral de manter relevância e reputação no mercado. Ao mesmo tempo, a sociedade enfrenta o desafio de garantir que a democratização da informação e da voz não resulte em perda de qualidade ou em desigualdade cognitiva (quem dispõe de melhor curadoria leva vantagem). Isso possivelmente demanda educação midiática: formar cidadãos aptos a filtrar informação, distinguir fato de opinião e checar fontes, para que possam aproveitar a abundância informacional sem cair nas armadilhas da desinformação.

Outra implicação econômica é a necessidade de atualizar métricas e políticas para a era do preço zero. Se vários serviços essenciais têm preço zero ao usuário, políticas públicas podem focar em garantir acesso universal à internet e infraestrutura, já que a exclusão digital passa a equivaler à exclusão do conhecimento. Além disso, deve-se pensar em mecanismos de remuneração dos criadores de conteúdo informativo de qualidade num mundo de acesso aberto – seja via fundos, seja via modelos cooperativos – para evitar uma tragédia dos comuns informacional (todos consomem informação de qualidade gratuitamente, mas poucos têm incentivo para produzi-la).

No que tange à economia da opinião, uma implicação é na regulação da publicidade e transparência. Quando opiniões influenciam compras tanto quanto (ou mais que) anúncios, é fundamental garantir que o público saiba quando está diante de uma opinião autêntica vs patrocinada. Muitos países já implementaram normas para influenciadores declararem publicidade. Fortalecer essas regras ajuda a manter um grau de confiança no ecossistema – caso contrário, a saturação de publiposts disfarçados pode minar a credibilidade percebida das opiniões online.

Finalmente, este estudo corrobora que a economia digital desafia fronteiras conceituais estabelecidas. Informação e opinião, antes separadas (fatos vs valores), agora se entrelaçam num produto híbrido de “conteúdo” que move mercados. O capital social (reputação, influência) transforma-se em capital econômico de forma mais rápida e mensurável que nunca, mas também volátil. Vivemos uma fase em que a “moeda” atenção/opinião ganhou cotação alta. É possível que futuramente surjam contrapesos – como atenção mais seletiva, ou até economias de token que atribuam valor financeiro direto à atenção dos usuários, mudando a dinâmica. Em todo caso, entender os fenômenos dos últimos dez anos nos permite navegar o presente com mais clareza: empresas, profissionais e instituições que reconhecem o valor da informação livre e sabem trabalhar dentro da economia da opinião tendem a prosperar, enquanto os que ignoram essas forças arriscam-se a perder relevância.

Conclusão: Em resposta à pergunta inicial, concluímos que, no período de 2015 a ## Conclusão
Em resposta à questão inicial, conclui-se que, entre 2015 e 2025, concretizaram-se profundas transformações na economia digital alinhadas à tese investigada. Primeiro, a informação de fato apresentou uma tendência estrutural à gratuidade ou preço marginal próximo de zero, fruto da abundância propiciada pelas tecnologias digitais e modelos de negócio baseados em acesso livre. Esse fenômeno democratizou o conhecimento e pressionou setores baseados em venda de informação a se reinventarem, embora não tenha eliminado inteiramente nichos de conteúdo premium e a necessidade de monetização indireta. Segundo, a economia digital mostrou-se crescentemente ancorada em opinião e reputação, na medida em que a confiança e a atenção tornaram-se recursos escassos. Influenciadores digitais e o julgamento coletivo de usuários ganharam papel central na criação de valor econômico – desde impulsionar vendas de produtos até moldar percepções de serviços profissionais – obrigando agentes tradicionais a adaptarem suas estratégias de construção de autoridade.

Os estudos de caso nos setores de consultoria e contabilidade ilustram concretamente esses impactos: informação comoditizada reduziu barreiras de entrada e preços, enquanto a diferenciação passou a residir na capacidade de interpretação especializada e na credibilidade conquistada junto aos clientes. Assim, conhecimento técnico e opinião não são esferas excludentes, mas elementos que se reequilibram numa nova dinâmica. Os profissionais e organizações bem-sucedidos foram aqueles que souberam aliar competência substantiva com comunicação eficaz, aproveitando a disponibilidade de informação para entregar mais valor e utilizando ferramentas digitais para amplificar sua reputação e confiança junto ao público.

Em suma, a hipótese de trabalho – informação tendendo a preço zero e predomínio da opinião na economia digital – mostrou-se amplamente respaldada pelas evidências da última década. Importa frisar, contudo, que tais tendências trazem desafios correlatos: a necessidade de assegurar qualidade informacional em meio à gratuidade, de educar usuários para navegar no excesso de opiniões e de repensar métricas econômicas que capturem o valor gerado fora das trocas monetárias tradicionais. A economia digital seguirá evoluindo e novos fatores (como inteligência artificial, regulação de plataformas, mudanças culturais nas redes) poderão ajustar o pêndulo entre conhecimento e opinião. Porém, compreender os vetores dos anos 2015–2025 oferece bases sólidas para agentes econômicos e formuladores de políticas lidarem com um mundo onde informação abundante e influência onipresente definem, simultaneamente, grandes oportunidades de inovação e exigentes responsabilidades sociais.

Referências

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