A felicidade no trabalho é uma questão importante, considerando que as pessoas passam a maior parte da vida trabalhando. Jan-Emmanuel De Neve* e George Ward**, em um artigo publicado na Harvard Business Review, apresentam evidências de que há uma correlação entre felicidade e trabalho, baseado no World Happiness Report.
Eles analisaram profundamente a relação entre trabalho e felicidade, utilizando dados da Gallup World Poll, que tem coletado informações de pessoas em mais de 150 países desde 2006. Eles mediram o bem-estar subjetivo, também conhecido como felicidade, e investigaram como os elementos do trabalho afetam esse bem-estar.
Os pesquisadores observaram como as pessoas avaliaram a qualidade de suas vidas em geral, medida pela Cantril Ladder da Gallup. Além disso, eles analisaram os estados afetivos positivos e negativos experimentados pelas pessoas em suas vidas diárias, bem como a satisfação e engajamento dos colaboradores no local de trabalho.
Em resumo, o estudo de Ward e De Neve fornece evidências sólidas da importância da felicidade no trabalho e sua influência na avaliação geral da vida das pessoas.
Quais empregos são mais felizes?
De acordo com a Gallup World Poll, onze tipos de trabalho foram registrados, abrangendo desde ser proprietário de uma empresa até trabalhadores da construção, mineração ou transporte. Qual grupo de trabalhadores é mais feliz?
A pesquisa indica que trabalhadores em empregos menos qualificados tendem a relatarem menor felicidade geral em todo o mundo, especialmente em setores intensivos como construção, mineração, manufatura, transporte, agricultura, pesca e silvicultura. Em comparação, aqueles que trabalham como gerentes, executivos, funcionários ou autônomos avaliaram a qualidade de suas vidas com nota aproximadamente 6 (em uma escala de 1 a 10), enquanto trabalhadores na agricultura, pesca ou silvicultura avaliaram em torno de 4,5 em média.
Além disso, o estudo também aponta que trabalhadores em profissões intelectuais relatam experimentar mais emoções positivas, como riso e diversão, e menos emoções negativas, como preocupação, estresse, tristeza e raiva.
As diferenças de felicidade entre os tipos de trabalho podem ser influenciadas por vários fatores, como renda, educação, idade, sexo e estado civil. No entanto, mesmo ao ajustar as estimativas para levar em conta essas variáveis, a tendência geral de diferenças de felicidade entre os tipos de trabalho permaneceu semelhante.
Estar desempregado causa infelicidade
Uma das descobertas mais importantes na economia da felicidade indica que o desemprego é prejudicial para o bem-estar humano. Esta verdade é comprovada em todo o mundo, já que pessoas que estão empregadas avaliam a qualidade de suas vidas em média com notas mais elevadas do que aquelas que estão desempregadas. Além disso, os desempregados relatam cerca de 30% mais experiências emocionais negativas em seu cotidiano.
A importância de ter um emprego vai além do salário, já que a pesquisa aponta que os aspectos não monetários do emprego também desempenham um papel crucial no bem-estar das pessoas. Status social, relações sociais, estrutura diária e objetivos exercem forte influência na felicidade das pessoas.
Satisfação no trabalho em todo o mundo
A pesquisa da Gallup World Poll pergunta aos entrevistados se eles estão satisfeitos com seus empregos através de uma resposta sim/não. Os resultados mostraram que a porcentagem de entrevistados que relataram estar “satisfeitos” foi maior em países da América do Norte e do Sul, Europa, Austrália e Nova Zelândia, sendo a Áustria o país com o maior número de entrevistados satisfeitos com seus empregos, 95%.
Além disso, os pesquisadores descobriram que a remuneração adequada é um fator importante para a satisfação no trabalho, mas outros aspectos também são significativos, como o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, a variedade de tarefas, o aprendizado contínuo, o nível de autonomia, a segurança no trabalho e o apoio dos colegas. Já trabalhos que envolvem riscos à saúde e segurança são geralmente associados a níveis mais baixos de satisfação.
A pesquisa também indica que a felicidade no trabalho não é apenas importante para o bem-estar pessoal, mas também tem impacto econômico, já que pode influenciar a produtividade e o desempenho da empresa.
Ser feliz no trabalho, portanto, não é apenas uma questão pessoal; é também econômica.
Felicidade no mercado de serviços contábeis
A pesquisa sobre o mercado de trabalho em serviços contábeis, realizada em 2022, pela Connectabil e Roberto Dias Duarte, com o apoio de entidades de classe do setor, destacou aspectos relevantes sobre a felicidade no trabalho. Os dados foram coletados por meio de uma pesquisa “survey” com uma margem de erro de 3% e um nível de confiança de 95%, indicando que os resultados da pesquisa refletem as opiniões da população total.
Uma das perguntas abordadas na pesquisa foi: “De 0 a 10, o quanto você é feliz no ambiente de trabalho?” A média das respostas foi 7,7, indicando um nível elevado de felicidade, mesmo em comparação com padrões globais. Apenas um quarto dos profissionais respondeu com uma nota inferior a 6 e 40% deles atribuiu nota 9 ou 10 para dimensionar sua felicidade no trabalho.
Analisando as respostas à pergunta “De 0 a 10, o quanto você admira os fundadores da empresa?” foi possível identificar uma relação importante entre a admiração e a felicidade no trabalho. A média das respostas foi 8, e menos de 20% dos entrevistados atribuiu uma nota inferior a 6 para a admiração pelos fundadores. Além disso, cerca de metade dos profissionais avaliou sua admiração com nota 9 ou 10.
Ao comparar o nível de felicidade declarado com a admiração aos fundadores, verificou-se que cerca de 80% dos profissionais que se consideravam muito felizes no ambiente de trabalho também admiravam muito os fundadores de suas empresas. Por outro lado, aproximadamente 80% dos profissionais que se consideravam pouco ou nada felizes admiravam pouco ou nada os fundadores.
Enfim, os resultados da pesquisa indicam que há uma relação importante entre a admiração aos fundadores e o nível de felicidade no ambiente de trabalho.
Conclusão
Este estudo sobre o mercado contábil revela uma forte ligação entre a felicidade dos funcionários e a admiração por seus líderes. Além disso, a felicidade tem sido comprovada como fator influente no engajamento, produtividade e desempenho financeiro.
Isso significa que o sucesso financeiro e empresarial na área contábil não depende somente da boa gestão e utilização adequada da tecnologia, mas também do nível de admiração que os funcionários têm pelos seus líderes.
Se você é um líder, é importante trabalhar na construção de relações positivas e de admiração com sua equipe, pois isso pode ser crucial para o sucesso da empresa. Além disso, a admiração da equipe pelo líder pode ser considerada como indicador do sucesso em gerar admiração entre os clientes.
Em resumo, a felicidade e admiração dos funcionários são fatores-chave para o sucesso financeiro e empresarial na área contábil, e é importante que líderes trabalhem na construção de relações positivas e admiráveis com sua equipe.
Referências
NEVE, J.-E. & WARD, G. Does work make you happy? evidence from the World Happiness Report. Harvard Business Review, [s.l.], v. n.º, n.º, p. n.º, mar. 2017. Disponível em: https://hbr.org/2017/03/does-work-make-you-happy-evidence-from-the-world-happiness-report. Acesso em: 3 fev. 2023.
*Jan-Emmanuel De Neve é Professor Associado de Economia e Estratégia na Saïd Business School, Universidade de Oxford, e Editor Associado do World Happiness Report. GW
**George Ward é Ph.D. estudante do Institute for Work and Employment Research, MIT Sloan School of Management.